Watch Dogs… Estava em uma sala, pressionando um dos possíveis responsáveis pela morte de Lena. Claro, ele não iria falar, mas eu podia hackear o celular dele atrás de mais informações. Saindo da sala, descubro que a polícia já está no local – um estádio – e preciso escapar (e se possível, sem ser notado). Cubro o meu rosto e me escondo atrás de uma caixa. Com o meu celular, através do CtOS, um sistema operacional que controla toda a rede de informações, onde registra e armazena toda a vida digital dos cidadãos de Chicago, descubro mais sobre a vida dos dois policiais que estão fazendo a ronda, desde seus problemas pessoais até suas contas bancárias.
Poderia até mata-los ou incapacita-los, mas saber mais deles me fez pensar duas vezes. Usando o mesmo sistema, que me dá controle de praticamente tudo o que está ligado a rede, como semáforos, pontes, câmeras e outros dispositivos, ativo uma máquina e chamo a atenção dos policiais e consigo passar por eles, despercebido. Quase chegando a saída, percebo que preciso fazer mais do que atrair a atenção deles. A sala está cheia de policiais. Para despista-los de uma vez por todas eu causo um blecaute no estádio. É a minha deixa para escapar.
O mais aguardado jogo do ano, Watch Dogs (estilizado como Watch_Dogs), finalmente chegou e com a expectativa lá no alto. Produzido pela Ubisoft Montreal e lançado dia 27 de maio de 2014, o jogo de ação-aventura em mundo aberto foi apresentado ao mundo pela primeira vez na E3 de 2012. O jogador encarna Aiden Pearce, um (super) hacker em busca de vingança depois da morte de sua sobrinha. A história se passa em uma Chicago hipercontrolada por um sistema chamado CtOS (como falei acima), ou seja, o tema cibersegurança, invasão e manipulação de sistemas e dados, assunto muito atual, chega mais forte ao game.
Agora fica a pergunta: Agora que o jogo foi lançado e a poeira da expectativa gerada pelos gamers, e até pela Ubisoft, baixou… é tudo isso? Olha querido leitor, o jogo é excelente, inovador e divertido. Mas talvez a expectativa não tenha feito o jogo ser melhor. E você vai entender porque.
A jogabilidade é em terceira pessoa, onde o mapa pode ser percorrido a pé ou em um veículo. A mecânica central é o hackeamento. Aliás, hackear é a melhor coisa do jogo. Todas as informações são apresentadas pelo comando perfilar no celular ao jogador através de realidade aumentada. Com a possibilidade de “digitalizar” um cidadão, uma breve história pessoal é gerada aleatoriamente – algum fato sobre seus hobbies ou estilo de vida, além de sua idade, ocupação e renda. É uma coisa pequena, mas é incrivelmente eficaz para humaniza-los. Aiden ainda tem o “poder” de remotamente interagir com o ambiente, desde semáforos, pontes, até mesmo as luzes da cidade (o tal blecaute que eu falei antes).
Apesar das inúmeras armas disponíveis para efetuar as missões, o jogo leva o gamer a uma perspectiva voltada ao stealth (furtividade). Finalizar os objetivos sem ser detectado é excelente. E vamos combinar, Aiden é especialista em hackeamento, não o Rambo. Apesar disso, é possível jogar metendo o pé na porta e sair atirando (o que para mim, perde um pouco o foco do game). Mas ponto para a Ubisoft, pela possibilidade. Para passar despercebido, nosso protagonista possui um leque enorme de opções no ambiente para chamar a atenção dos oponentes, como alarmes dos carros, guindastes, portões. E tudo isso pode ser feito através das câmeras que ficam espalhadas pelo cenário, aumentando o alcance de visão do hacker. É possível analisar a quantidade de oponentes e onde estão localizados. Sem contar que a “digitalização” permite saber quais inimigos podem chamar reforços e estragar toda a missão.
Os pontos negativos nesse caso ficam por conta do sistema de cobertura (cover) que falha em inúmeras vezes, principalmente durante a troca de local de proteção e problemas na física dos carros. Dependendo do carro que o jogador pegar, dirigir se torna um martírio, além de não existir um sistema de colisão. Bater o carro em Watch Dogs nunca será um problema, pois o carro não sofre tanto dano, ao contrário dos acidentes que ocorrem quando Aiden controla os semáforos. Esses são quase cinematográficos. Outro ponto negativo da mecânica: O jogador tem uma barra de reputação que não faz diferença nenhuma no andamento do jogo.
O visual do jogo é belo. Tanto a cidade, que é viva, bonita e muito bem feita, quanto os NPCs (personagens não-jogáveis). Nesse último caso, as diferentes reações deles, aliado a possibilidade de ver um pouco da história de cada um, tornam o jogo muito mais humano. Você se sente imerso na cidade. Mas é a variação climática que tem o maior destaque. Sol, chuva, vento, tempo nublado são incrivelmente bem trabalhados. Mas esse visual belo e carregado trás um lado um pouco complicado: Para os donos de PCs, será necessário um “investimento” alto para chegar em gráficos Ultra. Não é a toa que é o jogo mais exigente do mercado. Os donos dos consoles de nova geração, não sofrerão muito. O jogo não chega ao Ultra, mas atende bem o objetivo. E para os consoles da geração anterior, infelizmente, peca em relação ao visual.
A trilha sonora é outro destaque. As rádios dos carros são bem diversificadas. E é possível ainda “roubar” músicas ao hackear os celulares dos cidadãos. Ponto negativo para a dublagem em português, que vai contra a humanização dos NPCs, sendo falas totalmente robóticas.
O modo multiplayer é bem interessante. Em qualquer momento, um jogador pode invadir o seu jogo e hackear o seu celular, mesmo no modo história. Enquanto o jogador hackeado precisa achar o oponente dentro de uma área (“digitalizando” cada NPC) e no tempo limite, e mata-lo, o hacker, que entra como um NPC e se infiltra no meio dos cidadãos, precisa se esconder.
No meu caso, o meu jogo foi invadido algumas vezes e tive sucesso por conta do nervosismo do hacker. Normalmente eu chegava perto do NPC e ele começava a agir de forma estranha. A dica para quem invadir é tentar manter a calma. E tentar se esconder o melhor possível (como dentro de carros, mas não estacione o bendito em cima da calçada).
Existem outros modos como Corrida Online e o CtOS Mobile, que através do tablet ou smartphone, o jogador controla a polícia enquanto o outro precisa fugir passando pelos checkpoints no mapa (aplicativo disponível no Google Play e Apple Store).
Conclusão
A premissa de Watch Dogs é realmente inovadora. Mas a expectativa fez o jogo sofrer um pouco na primeira semana de lançamento. A necessidade de um PC potente, os gráficos muito abaixo da capacidade da geração anterior e os problemas na física e jogabilidade, sem contar que em certo momento o jogo foi comparado com GTAV (o que eu achei desnecessário), quase mancharam a imagem do jogo. Eu disse quase, porque, mesmo que a expectativa seja exagerada e com seus problemas, é um jogo indispensável.
O jogo está disponível para PC, PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360 e Xbox One. Uma versão para Wii U será lançada até o final de 2014.