O Rock in Rio completa 30 anos desde sua primeira edição. Eu, um profundo admirador do festival, não poderia ficar de fora dessa festa. Comprei duas entradas (dias 19 e 25/09) e esperei ansiosamente a data do evento, afinal, se tratava da minha 4ª ida ao evento que sempre me deixa ótimas recordações e emoções únicas.
Chegado o dia 19, me preparo pra ir cedo pra cidade do rock, localizada ligeiramente perto de minha humilde residência. Eu e minha digníssima esposa chegamos lá por volta das 13hrs e com a abertura dos portões marcada para as 14, pode-se imaginar a quantidade de gente que já fazia fila para entrar. Encontramos amigos, bebemos aquela cerveja patrocinadora do evento por sete reais a lata e entramos sem maiores dificuldades. Pontos e mais pontos para a organização.
Já dentro do evento, damos de cara com um grande chafariz, novidade em relação às outras edições. A variedade de lanchonetes com preços inflacionados é bem grande, algumas com preços pornográficos e outras com uma coisa ou outra mais em conta. O copo de chopp de 400ml custava 10 reais e até ai nada de anormal se tratando de eventos desse porte. O que vale destacar realmente é a organização do festival em si. Tudo funciona muito bem, sem maiores percalços. Obviamente problemas ocorrem pois controlar 85 mil pessoas é uma tarefa pra lá de difícil, mas dentro do possível tudo transcorre de forma tranquila.
Noturnall + Michael Kiske
Pontualmente na hora marcada (15h e 15min) o Noturnall sobe ao palco. A banda formada pelos ex-Shaman Thiago Bianchi, Fernando Quesada e Leo Mancini e pelo ex-Angra Aquiles Priester. Já conhecia o som da banda, com letras de protesto contra o governo e retratando muito bem o momento atual do Brasil. Ao vivo, não me impressionou mas não chegou a me decepcionar. Cumpriram bem o seu papel como banda de abertura do dia.
O ponto alto do show foi a participação da lenda viva do power metal Michael Kiske, que parece não envelhecer nunca. A voz impecável, o timbre característico e a técnica refinada continuam lá, intactos. Ouvi-lo cantando “I Want Out”, hino gravado por ele quando fazia parte do Helloween era um sonho de infância que finalmente tive o prazer de realizar. Fim do show, hora de ir ao banheiro, comprar mais uma cerveja, comer alguma coisa e voltar para o próximo show.
Angra + Doro Pesch + Dee Snider
Passados 25 minutos do término do show da Noturnall, sobe ao palco o Angra. O show deles era um dos mais aguardados por mim. Desde 2011, quando fizeram um dos piores shows de todas as edições do Rock in Rio e em seguida passaram por momentos muito turbulentos, eu aguardava ansiosamente uma “volta por cima”. Depois do lançamento do excelente “Secret Garden” (que eu escrevi sobre aqui) e muitas críticas positivas em relação aos shows da banda, eu esperava um ótimo show e felizmente não me decepcionei.
Uma apresentação irrepreensível. Liderados pelo carismático e cada vez mais à vontade Fabio Lione, a banda fez um curto set misturando clássicos de todas as épocas da banda com sons do novo disco. E o ápice do show foi no final, com as participações de Doro Pesch (cantando uma música do novo disco da banda que ela gravou) e Dee Snider. Snider é um show à parte com sua energia e vitalidade aos 60 anos de idade. Animou todos cantando os dois clássicos do Twisted Sister, We Not Gonna Take It e I Wanna Rock. Um dos melhores shows que já assisti em um Rock in Rio até então.
Ministry + Burton C. Bell
Mais 30 minutos de pausa até o terceiro show do dia. Ai foi hora de encontrar alguns amigos que estavam lá, bater um papo e socializar. Tudo regado à chopp de 10 reais mas sempre gelado, tanto nos “restaurantes” quanto com os ambulantes, o que é um ponto positivo em relação à edição de 2013 aonde o chopp constantemente vinha quente.
O show do Ministry começou na hora marcada e eu confesso que não sou grande fã da banda. Vi o show pela curiosidade e entre um papo ou outro com amigos, curtia as músicas. Pelo que vi, achei uma banda bem entrosada e competente. Obviamente não é um som para todos os gostos, mas o tempo de estrada deles trouxe a experiência necessária para se tocar num festival desse porte. E ainda contaram com a participação do ótimo Burton C. Bell, vocalista do Fear Factory. Cumpriram muito bem o seu papel.
Gojira
Logo que o show do Ministry terminou, o Gojira subia no palco mundo para fazer o seu show. A banda francesa é conhecida por sua extrema competência ao vivo e não fugiu a regra. Show correto, seguro e com integrantes visivelmente emocionados de tocar para tanta gente no Brasil. Apesar da apatia da plateia por desconhecer o som dos caras, eles não se intimidaram em nenhum momento e desfilaram pouco mais de uma hora de set com maestria.
Korn
Voltei ao Palco Sunset pouco antes das 20 horas para assistir o Korn, depois de pedidos da minha nobre esposa. Nunca fui fã da banda (na verdade nunca gostei mesmo), mas sempre respeitei a banda pela sua história e pioneirismo. E a experiência de mais de 20 anos de banda fizeram a diferença. Show energético, vibrante e intenso. Porrada atrás de porrada sem deixar ninguém respirar. Nada que me surpreenda pois já tinha tido a oportunidade de assisti-los, mas quem é fã ou nunca tinha assistido certamente se empolgou bastante.
Royal Blood
Finados os shows do Palco Sunset, toda a atenção do público se voltou pro Palco Mundo. Nessa hora os meus quase 30 anos começaram a pesar. Cansaço, dor nas pernas e nas costas. Optei por “assistir” boa parte do show da dupla Royal Blood sentado no gramado sintético. Sim, a grama é sintética, o que facilita bastante. O som deles ao vivo soa incrivelmente fiel ao disco, muito bem tocado. Impressiona ainda mais o som que Mike Kerr tira de seu baixo e o vocal muito afinado. Uma banda com 2 anos de carreira e com essa maturidade musical é algo bem raro de se ver. Com certeza terão uma carreira longa pela frente.
Motley Crue
Terminado o show da dupla, mais 35 minutos de espera para um dos shows mais aguardados da noite (não por mim). Motley Crue sobe ao palco para a alegria da galera saudosa dos anos 80 (os quais a GRANDE maioria sequer viveu). Estavam lá Nikki Sixx, Vince Neil (gordo feito uma porca prenha), Tommy Lee e Mick Mars. Nunca gostei do som deles e tenho-os como uma das piores bandas de hard rock dos anos 80. Vince sempre foi um péssimo vocalista e piorou com o tempo.
Os outros músicos são competentes e mostraram isso no show, com um instrumental bem redondo. A pirotecnia se fez presente em grande parte do show, mas nem ela me impressionou. Sempre tive aquela máxima que banda boa não precisa nem de telão no fundo do palco para realizar um grande espetáculo. Não que eu desgoste dos efeitos, desde que eles venham com qualidade musical atrelada. Que seja um complemento e não uma muleta. Confesso que não via a hora do show acabar.
Metallica
Terminado o martí…digo show do Motley, eu, minha esposa e os amigos que estavam juntos conosco nos deslocamos para acompanhar o show do Metallica de um lugar melhor e mais estratégico em relação a saída do evento, afinal, a experiência de vários Rock in Rio’s tem que servir para alguma coisa. Com um certo atraso, os veteranos do thrash metal sobem ao palco para seu 3º Rock in Rio seguido no Brasil. Muita gente critica a banda, dizendo que fazem “o mesmo show” todo ano. Oras, acho isso um grande exagero. Num set composto por 16 a 18 músicas, mudar 7 ou 8 delas todo show é uma bela variação. A carreira da banda é muito extensa e músicas não faltam.
Os clássicos sempre se fazem presente (apesar de eu ter sentido falta de Creeping Death), mesclados a outras músicas pouco tocadas. E esse show, particularmente, foi lotado de surpresas. As agradáveis foram músicas que eles nunca ou pouco tocaram ao vivo como The Frayed Ends of Sanity e Turn the Page e a desagradável foi a terrível falha no som no meio da execução de Ride the Lightning. Quem assistiu de casa provavelmente não notou, pois os retornos dos músicos e o som para a transmissão não foram afetados.
Fade to Black
Mas lá na Cidade do Rock o som sumiu por duas vezes, fazendo com que na segunda vez a banda saísse do palco e já voltasse tocanco Fade to Black. Isso nitidamente alterou o humor da banda, que passou algumas músicas se comportando de forma mais fria. Porém, James logo tratou de quebrar o clima pesado com brincadeiras e interação com o público. Mais um show seguro e competente do Metallica, como não poderia deixar de ser.
Devido aos problemas, o show foi terminar quase 3 da madrugada e eu que por volta das 23 já acusava os sinais da velhice, essa hora estava quebrado. Arrastei-me com minha esposa para fora da Cidade do Rock e voltamos pelo mesmo caminho que viemos, sentados e sem problema ou perrengue algum. Aliás, melhor que nos outros anos que tivemos alguma dificuldade para conseguir pegar o ônibus pra casa.
O saldo foi extremamente positivo apesar do cansaço. O festival é uma experiência única. Todo o clima, a festa, a atmosfera é incomparável. Não são apenas shows, são pessoas do mundo todo interagindo, conversando e curtindo shows de vários artistas diferentes. Vale todas as dores do dia seguinte (e dos dois posteriores, no meu caso). Dia 25 estarei lá de novo na companhia de minha fiel e querida esposa para depois contar novamente tudo para vocês.
*Créditos das imagens – I Hate Flash (www.ihateflash.net)
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- Música
- 24 de setembro de 2015