Todo ano começa com muitas expectativas. Sonhos, planos, desejos…A indústria da música não foge muito à regra e sempre nos brinda com muitas incertezas. Esse era o sentimento que eu tinha com a saída de Alissa White-Gluz do The Agonist, que substituiu Angela Gossow no Arch Enemy. Alissa é uma vocalista bem acima da média e com boa variação técnica, o que torna o trabalho da substituta uma árdua missão. Mas como já disse um certo capitão: “Missão dada parceiro, é missão cumprida”
O Recomeço
Com a saída de Alissa (veja a matéria sobre o primeiro trabalho dela no Arch Enemy clicando aqui), a primeira pergunta era se a banda teria forças para continuar. O processo de escolha da nova vocalista foi surpreendentemente rápido, sendo anunciada a americana com descendência grega Vicky Psarakis. Confesso que nunca tinha ouvido nenhum trabalho da jovem e a dúvida, naquele momento, continuava.
A incerteza logo caiu por terra. Menos de um mês após anunciar a entrada de Vicky, a banda lança um single intitulado “Disconnect Me”, contendo a faixa título e outra chamada “Perpetual Notion”. A primeira música é uma porrada digna da banda. Riffs cavalgados e bastante melódicos, quebras nas pontes e um vocal muito inspirado da novata. E ela repete a dose na segunda faixa, mais comercial e melódica, mas sem fugir (muito) das características da banda. Uma variação vocal que suplanta, inclusive, muitas performances da antiga vocalista. Acredite, é algo bastante difícil.
Missão cumprida
A espera terminou no dia 11 de Fevereiro desse ano, quando “Eye of Providence” (disponível no Deezer) chegou ao mercado. Com ajuda da já citada variação técnica de Vicky, o The Agonist pôde soltar algumas amarras e experimentar mais. Isso pode soar ruim para você que está lendo mas acredite, eles acertaram nas mudanças sutis de direcionamento e levada. Modernizaram o som e conseguiram explorar o máximo da técnica de sua nova integrante.
Muitas músicas desse novo disco remetem ao “antigo” The Agonist. Faixas como “Gates of Horn and Ivory”, “I Endeavor” e “A Necessary Evil” lembram muito o tempo com Alissa, de quebras no refrão, variação entre o limpo e gutural, bateria mais “tribal” em pontes e porradeira sem fim. Mas são nas músicas que fogem do passado da banda que Vicky (e toda banda, aliás) se destaca. Faixas de beleza fora do comum para uma banda de metalcore como “The Perfect Embodiment”, onde a técnica da novata é levada ao extremo, do lírico ao gutural, passando por drives e mid tons perfeitos. Música para ser ouvida vezes e vezes seguidas.
E os momentos marcantes não param. A balada (quem diria!) “A Gentle Disease” vem com uma Vicky encantando a cada palavra, doce e com ótimo feeling. “Danse Macabre” é uma das faixas mais interessantes do disco. Dividida entre o gutural e o vocal com punch extremo, Vicky consegue impressionar em todos os momentos. É notável a confiança que a jovem consegue passar em qualquer campo que se aventure.
Mas se eu pudesse apontar a música mais marcante do álbum, sem sombra de dúvidas seria “As Above So Below”. A delicadeza dos arranjos, o dedilhado etéreo da guitarra e todo o clima encaixa perfeitamente com a letra. As quebras de ritmo são fantásticas, talvez as melhores que a banda já fez na sua carreira. E mesmo com isso tudo, o destaque ainda é de Vicky e seu feeling. A entrega da vocalista nessa música arrepia até os mais céticos. Impressionante, para dizer o mínimo.
Resumo final
Eye of Providence é um grande disco. Corajoso e técnico, vai agradar aos antigos fãs da banda na mesma proporção que trará novos adeptos. Mas o maior mérito foi ter dado uma cara única a banda. A identidade do The Agonist foi redefinida para melhor graças a Vicky Psarakis. Sua versatilidade fez com que a banda mesclasse sons e técnicas ao seu tradicional peso para criar algo único. O melhor disco que ouvi esse ano. E será bem difícil algum superar.
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- Música
- 4 de março de 2015