PlayStorm Review: Arch Enemy – War Eternal (2014)

O mundo da música, principalmente no que tange heavy metal, tem alguns tabus. Um deles é que o vocalista é a alma da banda e sem ele, a banda “morre”, independente da qualidade daquele que o substitui. Criam-se as famosas “viúvas”, que nada mais são do que fãs babacas do vocalista substituído que ficam nas redes sociais, sites especializados e afins cagando uma infinidade de regras, normalmente em detrimento ao substituto. Bem, eu interpreto que “fãs” assim maiores de 15 anos devem procurar algum tratamento mental, mas isso fica para outra matéria.

Como falei, mudança de vocalista sempre é um processo complicado. E foi o que aconteceu com os suecos do Arch Enemy. A famosa e mundialmente reverenciada Angela Gossow deu lugar para Alissa White-Gluz, jovem e talentosa vocalista do “The Agonist”. Muitos fãs se diziam “decepcionados” e “profundamente tristes” com a saída de Angela, afirmando (mesmo sem embasamento nenhum para tal) que era o fim do Arch Enemy e que a banda não seria nem sombra do que já foi. E, como na esmagadora maioria dos casos, estavam completamente errados.

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Melhor do que nunca

Para quem não conhece, Arch Enemy é uma banda de death metal melódico criada em 1995. E por que o “melódico”? Pois bem, o death metal é conhecido principalmente pelo seu peso instrumental e agressividade no vocal, quase sempre gutural. O death metal melódico tem tudo isso, com o acréscimo de melodias mais marcantes, riffs mais harmônicos. Deu pra entender? Ainda não? Então procura no Google.

Capitaneada por Micheal Amott (Carcass) e seus riffs, o Arch Enemy lançou esse novo trabalho, intitulado “War Eternal”, sob muita desconfiança. Muitos não sabiam o que esperar da banda com a saída de Angela Gossow. Eu, como já conhecia o trabalho de Alissa White-Gluz com o The Agonist, fiquei bastante entusiasmado. Sabia da competência da bela canadense de olhos azuis. Sua técnica de gutural é apuradíssima, além do feeling bem acima da média para o estilo. A certeza veio na medida em que os singles foram sendo lançados. Uma porrada atrás da outra, com uma performance fantástica de Alissa. As expectativas foram aumentando cada vez mais e quando finalmente pude ouvir o álbum completo (que está disponível no Deezer), fiquei profundamente satisfeito.

O álbum começa com a bela introdução “Tempore Nihil Sanat (Prelude em F minor)”, com corais gregorianos e orquestrações. Em seguida, temos a porrada “Never Forgive, Never Forget”, uma música que nasceu pra ser um hino. Desde a bateria no começo com pegada de black metal, passando pelo riff de passagem muito marcante, com timbragem baixíssima e o vocal perfeito de Alissa, tudo se encaixa. A faixa título vem logo em seguida, com um riff “cavalgado” bem pesado, com flertes claros com o heavy metal tradicional. A ponte para o refrão, com um riff bem melódico (que se estende até o referido refrão) é muito bem colocada.

“Baladinha”

A ótima “As The Pages Burn” vem em seguida. Com mais peso e apostando numa levada mais crua, com uma ótima quebra no refrão. O destaque, mais uma vez, é Alissa. A forma como a linha vocal é conduzida pela vocalista é simplesmente do car#%$o e a variação técnica em vários momentos chega a assustar. Já em “No More Regrets”, encontramos uma sonoridade clássica do Arch Enemy. Riffs bem melódicos, com uma “cama” mais pesada e crua de baixo, batera e guitarra base. O riff do refrão acompanhando o vocal foi bem escolhido pra cacete. Bela sacada do Michael. “You Will Know My Name” vem um pouco mais lenta, quase uma “baladinha”.

Algumas orquestrações na metade da música a tornam ainda mais suave. Não sei se o intuito dessa faixa é ser uma porta de entrada para rádios e afins, mas seria uma bela pedida. A instrumental “Graveyard of Dreams”, quase uma música solo de Michael Amott, vem como uma introdução para “Stolen Life”, com um riff que me lembrou bastante os alemães do Primal Fear. Uma típica quebra no refrão e a famosa ponte melódica completam a faixa, que se não se destaca mas está longe de comprometer. Em seguida, uma de minhas preferidas, “Time Is Back”. As orquestrações aliadas ao peso absurdo dos riffs e bateria fazem da faixa uma das mais complexas do disco. Muitas quebras (todas bem encaixadas e sem exageros) e mais uma vez um vocal matador. Realmente do car$%#o.

“Avalanche”

Continuando, temos “On And On”, em que o destaque fica todo por conta da bateria. O trabalho feito por Daniel Erlandsson é fantástico em todo álbum, mas nesse faixa realmente ele se supera. Viradas excelentes, quebras de andamento e bumbo matador. As orquestrações se fazem presente de novo em “Avalanche”, com uma levada neoclássica bem bacana, mas em minha opinião a música mais “fraca” do disco. Com aspas sim, pois mesmo não sendo uma excelente música, não chega nem perto de comprometer a coesão do álbum. “Down To Nothing” coloca a banda de novo nos trilhos do death metal estilo Arch Enemy com uma porrada a cada estrofe.

Que vocal, pu#% que pariu! A surpresa (positiva) do disco fica por conta de “Not Long For This World”. Uma música instrumental belíssima, com andamento bem mais lento que o de costume para os padrões da banda, mas com uma identidade muito marcante. Você consegue ouvir todas as características do som da banda, das orquestrações aos riffs. E fechando a obra, “Shadow On The Wall” conta com uma Alissa cantando aos sussurros, lembrando muito os tempos de “The Agonist”. Nos refrões, o perfeito gutural volta com toda a força que a acompanhou ao longo do disco. Grande conclusão para um disco maior ainda.

Resumo final

Em um trabalho maiúsculo, Alissa White-Gluz toma as rédeas de uma das maiores bandas de death metal melódico do mundo com maestria. War Eternal já nasce clássico. Para mim, está disputando “gutural com gutural” com o último trabalho do Behemoth (The Satanist, que eu falei aqui) pelo prêmio de melhor álbum do ano. Simplesmente essencial.

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