O mundo da música é, por muitas vezes, ingrato. Muitos artistas, com trabalhos realmente bons, só recebem o devido reconhecimento depois que partem dessa pra melhor. Outros, com trabalho de igual qualidade e sucesso em vida, caem no esquecimento assim que falecem. Obviamente, Michael Jackson não se encaixa em nenhum desses exemplos.
Michael Joseph Jackson (1958 – 2009) sempre foi um artista completo. Quando moleque, cantava e dançava como ninguém. Já adulto, se tornou um grande músico e compositor, sendo conhecido pelo ouvido apuradíssimo. Não havia nota que passasse despercebida pelo Rei do Pop, que fazia questão de acompanhar cada fase de produção dos seus álbuns. Nada era lançado, divulgado ou sequer tocado sem seu crivo. Talvez isso explique a qualidade muito acima da média de seus lançamentos em vida. Porém, como todo artista de porte gigantesco, Michael Jackson ainda faz sucesso, mesmo após sua morte. E obviamente os fãs sempre anseiam por “novos” registros do astro, com músicas inéditas. E foi aí que começou o problema.
God save the King of Pop
Hoje (13 de Maio) foi lançado nos EUA (dia 9 de Maio na Europa) “Xscape”, o segundo álbum póstumo de Michael Jackson. O disco contém oito faixas gravadas por Michael em diferentes momentos de sua carreira. Todas as músicas são inéditas para o público e receberam roupagens “modernas”. A produção executiva ficou a cargo de L.A. Reid, que convidou vários produtores famosos do universo pop para auxiliá-lo nas faixas, como Timbaland (Madonna, Justin Timberlake), Rodney Jerkins (Lady Gaga, Jennifer Lopez) e Stargate (Beyoncé, Rihanna).
O cenário estava montado: Grandes produtores, a voz mais famosa da história do pop, músicas inéditas, uma gravadora forte bancando tudo por trás e uma legião de fãs ansiosos pelo lançamento. E o resultado…bem…coitado do Michael.
Revirando no túmulo
O álbum começa com “Love Never Felt So Good”, originalmente gravada em 1983. No arranjo original, predominava um piano suave e um ritmo bem lento. Na releitura, que conta com a participação de Justin Timberlake e produção de Timbaland, o ritmo foi bastante acelerado, com várias (mesmo) camadas de efeito. Me incomoda demais ouvir o Michael soar tão artificial. Um arranjo menos “pop pista de dança” e mais intimista cairia melhor, na minha opinião.
Em seguida, temos “Chicago”, originalmente gravada em 1999 (nas sessões de estúdio do disco “Invincible”, de 2001) sob o título de “She Was Lovin’ Me” e coube novamente a Timbaland fazer a releitura. A música caminha muito bem, sem exageros de camadas nem efeitos até a metade da execução, quando os efeitos começam a pipocar, uns colados nos outros, ao ponto sobrepujar a voz mais suave de Michael, que faz um “dueto com ele mesmo” na faixa. Boa letra, excelente performance de Michael (como de costume), porém a produção peca no exagero novamente.
Dando continuidade, temos “Loving You”, originalmente escrita, produzida e gravada por Michael nas sessões de estúdio do álbum “Bad”, de 1987. O arranjo atualizado da faixa se aproxima bastante do original, porém com uma pegada mais moderna. Foi a faixa que notei menos efeitos, ou onde esses efeitos “profanaram” menos a voz de Michael. A batida sintetizada demais no refrão me incomodou um pouco, mas nada de assustar.
Releitura…
Primeira faixa que tive vontade de repetir a audição logo em seguida. A próxima é, “A Place With No Name”, música gravada em 1998. Na versão original*, um country clássico de voz e violão, com um belo coral no refrão. Já a releitura, um pop com batidas marcadas e sintetizadas e algumas camadas pesadas de efeito. Confesso ter achado essa uma das piores releituras. Quando comecei a ouvi-la, olhei umas três vezes para ver se era realmente a faixa certa. A música perdeu completamente a essência, ficando totalmente desconexa com a idéia original.
* Essa versão foi vazada pelo site TMZ.com no dia 16 de Julho de 2009, três semanas após a morte de Michael Jackson
Prosseguindo, temos “Slave to the Rhythm”, música gravada originalmente em 1991 para o álbum “Dangerous”, mas ficou de fora (ainda bem). Aqui temos o caso que nem a original me agradou muito. O refrão, que se repete muito, não emplaca. Na releitura, um caminhão de efeitos e sintetizadores para tentar empolgar soam totalmente em vão. Vale lembrar que essa é aquela música “Slave 2 the Rhythm”, gravada como um “dueto” com Justin Bieber, obviamente de forma não autorizada.
Chegamos na faixa que os efeitos mais me irritaram. Em “Do You Know Where Your Children Are”, temos um caminhão de efeitos sem nenhum propósito. A versão original, gravada em 1991, tinha os efeitos na medida certa e funcionaria com toda certeza nos dias de hoje. Entulharam a faixa com tantas camadas que fica até difícil ouvir a voz de Michael. Simplesmente lamentável. Continuando, temos “Blue Gangsta”, música com uma pegada mais pesada, densa. Gostei bastante da versão original e a versão atualizada de Timbaland deixou tudo melhor (finalmente). Os vocais ganharam mais “punch”, a batida ficou mais dançante e os efeitos foram usados (dessa vez) de forma corretíssima. Será presença certa em pistas de dança. Ponto para produção.
Enfim…
Finalmente, chegamos à última faixa, “Xscape”. Com um vocal absolutamente fantástico de Michael, a música tem uma pegada na linha de “Dangerous”, mas com uma modernidade que a aproxima de “Invincible”. E nesse caso, a versão repaginada ficou sensacional, com tudo se encaixando brilhantemente. Tudo na música foi potencializado, sem tirar nenhuma característica da original. Repeti pelo menos uma dezena de vezes, e a cada audição ela melhorava. Fantástico trabalho.
Resumo final
“Xscape” é um disco de altos e baixos, com muito mais baixos. Melhor que seu predecessor “Michael”, empolga em poucos momentos e peca pelo excesso. Com toda certeza venderá mais do que banana na feira, mas é um registro muito abaixo do que poderia ser vide as canções originais. Michael merecia mais.
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- Música
- 13 de maio de 2014