No dia 10 de dezembro de 2009, James Cameron atracou o seu Titanic voador em Pandora e nos presenteou com o lançamento de Avatar, a segunda refilmagem de Dança com Lobos – a primeira foi o Último Samurai. Avatar se revelou um show de cores, plantas esquisitas e seres fantásticos, o que garantiu aos realizadores uma carteira recheada com 2 bilhões de dólares em bilheteria. Entretanto, o maior legado de Avatar não são os recordes ou premiações e sim a popularização de algo “velho com cheiro de novo”: o cinema 3D.
O velho e o novo 3D
O cinema 3D não é novidade: os parques de diversão de antigamente eram repletos de filmes em 3D. O Mc Donald´s tinha figurinhas em 3D no Mc Lanche Feliz (e os óculos eram feitos com uma armação em M, o famoso logotipo da marca). Mesmo no cinema, vez por outra, alguns filmes se valiam desse recurso. Eu me lembro de alguns filmes que tinham os últimos 15 minutos projetados em 3D. Todos ansiosos por aquele famigerado momento onde o filme era interrompido por alguns segundos e surgia na tela “Ponha seus óculos 3D”. Daí pra frente, o jeito era participar da catarse coletiva e fingir que estava se borrando por causa do Jason ou Freddy Krueger.
A ilusão de profundidade acontece porque os óculos possibilitam ao cérebro “unir o que a câmera separa”; em uma explicação nada técnica, o que ocorre é que duas imagens ligeiramente diferentes são projetadas ao mesmo tempo na tela. Sem os óculos 3D, o que enxergamos são imagens sobrepostas e fora de foco. Mas com os óculos, não: cada olho enxerga uma imagem diferente e o cérebro trata de unir as duas, criando assim o efeito de profundidade.
A diferença entre o 3D “antigo” e o novo é a maneira com que isso é feito: antigamente predominavam os óculos “coloridos”: cada lente era de uma cor e as imagens eram “separadas” graças à diferença da tonalidade do que era projetado. Hoje, a separação é feita graças à polarização da luz, o que eu não tenho a menor ideia do que signifique – só sei que aqueles óculos pra pescar e ver menos reflexo na água tem a ver com isso – mas o fato é que funciona.
Funcionar funciona, mas presta?
Eu não gosto de 3D
Já assisti uns 30 filmes em 3D e tenho uma opinião bem direta sobre o assunto: pra mim, 3D não presta. Até hoje, só consigo pensar em dois filmes onde o 3D fez alguma diferença: Gravidade e Avatar. De resto, é uma mera e depreciativa perfumaria.
No caso dos dois filmes citados, uma coisa é fato: os filmes foram concebidos e pensados em 3D. Gravidade tem toda uma montagem que é favorecida pela tecnologia, uma vez que o filme se passa metade dentro de uma nave e metade no espaço. O diretor soube explorar os planos fechados e abertos de maneira bastante competente. É muito legal você perceber a profundidade da nave espacial, um ambiente fechado e com gravidade zero.
E, na hora que o bicho pega e a ação muda para o espaço, o resultado também é excelente. Já em Avatar, um filme alicerçado nos gráficos e animações computadorizadas, se torna interessante o contato com aquele mundo novo, cheio de folhas mágicas e plantas luminosas. De resto, meu amigo, só temos a tecnologia empregada de modo capitalista (afinal, o ingresso é mais caro) em filmes cujo 3D é meramente uma conversão do 2D. E isso não agrega em nada, só atrapalha.
Eis alguns motivos que me fazem desgostar da tecnologia
- Imagens escuras: Assistir um filme 3D é igual assistir TV de óculos escuros. As imagens ficam escurecidas demais, e em alguns casos, chegam a atrapalhar – especialmente se a cena se passa de noite. Em filmes onde existe predominância de cores cinzas (como Noé), o efeito é absurdamente devastador.
- Cores: Além de escurecer a imagem, a qualidade das cores também fica bastante comprometida. Esqueça aquele belo céu azul, ou a capa vermelha do gatão do Thor. Tudo fica extremamente “acinzentado” com os óculos 3D.
- Vertigens: Muitos reclamam de enjoo ou vertigens durante uma experiência. Nunca tive esse tipo de problema, mas confesso que um filme em 3D é uma experiência extremamente cansativa. Nem sempre o 3D é certinho. Por vezes vemos imagens duplicadas e temos que forçar a visão para adequar aquilo tudo. Não raro, tiro os óculos por alguns instantes pra dar uma descansada nas vistas e…que alívio!
- Monopólio caça-níquel: Porra, tudo que é filme agora tem que ser em 3D? A maioria dos filmes só tem uma coisa agregada quando o assunto é 3D: o preço. Praticamente todos os lançamentos hoje são em 3D, o que é infinitamente desnecessário. Você se vê obrigado a assistir o filme em 3D – mesmo não se sentido confortável para tal – porque praticamente não existem outras opções e ainda paga mais caro por isso.
Pitaco final
Lançamentos do formato buscam apenas uma coisa: maior lucro. O filme é mais caro e a tecnologia é depreciativa para a qualidade do produto. Mesmo assim, arrastam multidões, numa clara manobra de marketing de massa. Eu, pelo menos enquanto puder, sempre vou preferir o 2D.
De óculos, já basta o meu – de grau!
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- 25 de abril de 2014