Querido leitor(a), se você está querendo me apedrejar, largue as pedras; se está querendo me crucificar, largue os pregos. Eu não vou comparar a qualidade musical da Legião Urbana com Zezé di Camargo & Luciano. Gosto é gosto, mas eu tenho certeza de que a maioria de vocês escolheria a banda de Rock brasiliense entre as duas opções. Estou aqui para falar do filme que retrata a gênese da Legião: Somos tão jovens.
Thiago Mendonça (que é o Luciano do filme “Dois Filhos de Francisco”) encarna Renato Russo, um adolescente cheio de dilemas de gente grande.
O cenário é a Brasília do final dos anos 70 e início dos anos 80. Somos apresentados à mítica “Turma da Colina”, um badalado grupo de jovens da cidade – em sua maioria filhos de militares, de políticos e de diplomatas – que se reuniam no conjunto de prédios habitacionais de mesmo nome, na UnB. Da turma surgiriam grandes bandas do rock nacional: A Plebe Rude e o Aborto Elétrico que, ao abortar, pariu os irmãos Capital Inicial e Legião Urbana.
Vejam vocês que os ingredientes para um grande filme estavam todos ali, mas não foi esse, infelizmente, o resultado. Somos tão jovens é uma obra fraca, que não está à altura da lenda que é a Legião Urbana.
Legião Urbana com sabor de Malhação
O mito Renato Russo merecia uma leitura mais aprofundada de sua genialidade. Em “Somos tão jovens”, tudo é abordado de forma muito branda, superficial. Renato Russo gostava de meninos e meninas, teve problemas com drogas, tinha seus momentos de altos e baixos, vivia suas emoções com muita intensidade mas, em Somos tão Jovens, o que temos é apenas um esboço pálido dessas questões. É impossível, portanto, não fazer comparações com outro filme do gênero (e de outro gênio), Cazuza – O tempo não para. Assista a ambos e compare como é grande a diferença com a qual tais assuntos são tratados.
E a turma da colina? Renato era amigo de Hebert Vianna, André Pretrorius, Dinho Ouro Preto, Fê Lemos, Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos. Mas no filme, pareciam mais a galera da malhação!
E as atuações?
A hora que o Hebert Vianna aparece no filme é tão ruim que chega a ser engraçada: O ator fala mole o tempo todo; parece um intelectual que tomou anestesia pra tirar o dente do siso. É uma atuação digna dos concursos de Stand Up Comedy do Domingão do Faustão.
O Dado Villa-Lobos só sabe falar que vai pra França e que não sabe tocar guitarra . O Marcelo Bonfá, coitado, nem fala. Fiquei um pouco frustrado com isso. O filme desperdiçou uma grande chance para que conhecêssemos melhor a história dos outros integrantes da Legião. Uma pena!
O Dinho Ouro Preto cara, você precisa ver cara, como ele é parecido com o Dinho real, cara! Sério cara: O ator é filho do Dinho? Ele é MUITO parecido, tão parecido que fiz questão de ver os créditos ao final do filme pra ter certeza que não usaram o Dinho real com algum efeito rejuvenescedor a lá X-Men: O Confronto Final.
O que dizer do Fê Lemos? Ele é a versão do “Frejat” em “Somos tão Jovens”. É o personagem concebido pra ser o brigão, o chato, o “certinho” do grupo.
O destaque fica por conta de um integrante pouco conhecido da Turma: André Petrorius, que é retratado com alguma complexidade, superior ao “nível malhação”. Digamos que é “nível novela das oito”.
Renato Russo
Thiago Mendonça faz um trabalho bastante competente ao representar Renato. A semelhança física com o músico é bastante satisfatória e ele mostra grande talento ao cantar e interpretar as canções do líder da Legião. Obviamente que não se tratam de performances ao vivo (pelo menos não na maioria das vezes), mas o resultado é bastante surpreendente (diga-se de passagem, bem melhor que o que fez Wagner Moura naquele show tributo-vergonha-alheia de 2012).
Thiago bem que se esforça ao tentar conferir profundidade e dramaticidade ao personagem, mas aqui parece ter sido realmente prejudicado pelo roteiro e pela direção. Em algumas cenas, porém, ele consegue sobressair-se: as cenas do luto por John Lennon e da declaração de amor “frustrada” são alguns exemplos.
Mas gente, ainda assim, é Legião Urbana, né? Ouvir Legião é sempre bom e traz sempre boas recordações. Diante disso, não é preciso dizer o quanto a trilha sonora é maravilhosa. Também é maravilhoso descobrir como surgiram algumas das composições mais célebres da banda, como Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica e Eu Sei (esta última surge em uma cena linda).
Infelizmente, boa música não é o suficiente para segurar a peteca de um filme mediano.
Zezé di Camargo e Luciano
Na cena final de “Dois filhos de Francisco” Thiago Mendonça (e o cara que faz o Zezé) saem de cena para dar lugar aos artistas reais – Zezé e Luciano. Em “Somos tão Jovens”, acontece o mesmo: sai Thiago, entra Renato. As semelhanças param por aí. Se ao final de “Dois Filhos” a sensação é aquela que nos faz sair da sala de cinema com um sorriso no rosto o sentimento de “dever cumprido” por ter visto um filme maravilhoso, em “Somos tão jovens” ela é justamente a oposta, a do gosto amargo de um filme que acaba de repente, onde pouca coisa acontece.
Em “Dois filhos”, a pobreza, a fome, a batalha pelo sucesso e a obstinação dos personagens são reais. Em “Somos tão jovens”, fica difícil comprar a ideia de que aquele cenário seria o suficiente para nos dar um artista tão complexo como Renato Russo.
Pitaco final
Se você quer ver um bom filme do Thiago Mendonça, veja Dois Filhos de Francisco. Se você quiser ver Thiago Mendonça interpretando um personagem icônico num filme nota 7, veja Somos tão Jovens. Renato merecia mais!
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- 12 de março de 2014