O velho clichê chamado FPS
Eu sei que você já deve ter lido isso um milhão de vezes, mas a verdade é que os jogos de tiro atualmente são focados no modo multiplayer e não na campanha single player. Não tenho nada contra jogar FPS em rede, a não ser pelo fato de morrer toda hora. Tirando isso, tá tudo certo.
Mesmo assim, sempre existem aqueles FPS onde se espera uma campanha mais elaborada: Crysis e Far cry são bons exemplos, mas nunca considerei que tais jogos cruzaram a linha tênue que separa um bom jogo de uma obra de arte.
Bioshock Infinite cruza essa linha de maneira muito, mas muito competente. O protagonista é Booker DeWitt, um ex militar americano que ganha a vida como investigador particular. Sua missão? Resgatar a jovem Elizabeth, que está trancafiada em uma cidade suspensa e cheia de mistérios chamada Columbia.
“Poxa vida, uma cidade suspensa? Esse jogo deve ser uma bela duma porcaria” – pensei . Mas estava enganado. Quando “cheguei” em Columbia, quase caí do sofá!
Columbia, uma obra de arte!
Assim que pisamos em Columbia, nos damos conta de que estamos muito mais do que em uma “cidade suspensa” do início do século 20. Columbia é um lugar único, tem vida própria e respira religião e patriotismo…misturados.
De cara, somos apresentados a uma imagem já conhecida: Um casal e sua criança sagrada, que resgatará a humanidade das garras do enganador, do falso profeta, do “carcará”. Batata, né: Jesus, Maria e José. Ledo engano, a começar pelo fato da criança não ser um menino, e sim, uma menina; além disso, os pais não se parecem nada com judeus e sim, com um típico casal americano do início do século. O “pai da criança” é um barbudo que atende por nome de Zachary Hale Comstock.
Comstock se autodenomina um profeta, o líder religioso de Columbia. Os símbolos religiosos estão em cada esquina de Columbia: a “santíssima trindade”, composta aqui por grandes presidentes americanos, um quarteto gospel cantando “God Only Knows”, pregadores, a “marca da besta”, livros sagrados, a veneração à mãe da criança sagrada, a perspectiva do apocalipse e os povos do mal, representados pelos “demoníacos” indígenas e chineses. Toda essa simbologia é tratada com imenso esmero no jogo e você realmente “acredita” em Columbia. A cidade é viva e detalhada o suficiente para que, em pouco tempo, você já esteja imerso naquela cultura que mistura de maneira muito esperta política, alienação e religião (o que de certa forma ocorre até hoje).
Os descontentes
E não é só de religião e “americanismo” que Columbia vive. Existem os que estão descontentes com a situação de Columbia, o grupo oposicionista chamado Vox Populi. Eles são a força que contra-balanceia o ambiente dominado pela elite, chamada de Fundadores. Esse aspecto poderia ser melhor explorado, inclusive; o contato que temos com o Vox Populi serve ao enredo mas a “revolta” fica apenas subentendida.
O ambiente é cuidadosamente construído: a tipografia dos cartazes expostos nas ruas, o design do mobiliário, os vídeos que você pode assistir e que contam um pouco da história de Columbia e da época, os objetos com cara de feira de antiguidade, a trilha sonora de acordo com a época, 1912. A cidade é tão legal que me vi por várias vezes deixando a história de lado somente para admirar sua complexa diversidade.
Elizabeth
Passado o deslumbramento causado por Columbia, vamos voltar à história. Você se lembra que o objetivo é resgatar a tal Elizabeth, né? Pois, bem, isso não será nada fácil.
Elizabeth passou a maior parte de sua vida como prisioneira, dentro de uma torre, a mando de Comstock. Ela é vigiada constantemente por uma espécie de criatura-mecânica, uma mistura de pássaro e avião, chamada Songbird. Resgatar Eliabeth da torre dá um trabalho da p*. Como não quero dar spoilers, basta ao leitor saber que a presença de Elizabeth garante ao jogo uma nova dinâmica: ela passa a ajudar Booker durante os tiroteios, com energia, sais (o combustível dos vigores – poderes mágicos – de Booker) e munição. Além disso, é ela quem destrava portas e cofres no game.
Elizabeth também possui um poder sobrenatural muito interessante: Ela consegue manipular fendas temporais e, por conseguinte, se deslocar no tempo-espaço. Sim, ela acessa “mundos paralelos”. Isso dá ao jogo infinitas possibilidades: Booker pode pedir para que Elizabeth abra uma fenda temporal onde, por exemplo, pode-se acessar munição extra, kit´s médicos ou mesmo usar armamento autômato ao nosso favor.
Enredo de primeira
Fendas temporais? Falso profeta? Cidade flutuante? Tudo isso poderia soar uma grande salada de frutas desconexa, e é a impressão que se tem ao longo de boa parte da aventura. São muitas informações, destinos e objetivos ocorrendo ao mesmo tempo, mas o fato é que a história não deixa nenhuma ponta solta. Depois de idas e vindas no espaço-tempo, temos um final arrebatador onde descobrimos quem é quem, os motivos e os porquês daquilo tudo. É tudo tão bem resolvido que a vontade de jogar de novo – já ciente do final – para captar melhor os detalhes é inevitável.
PS3 / Xbox 360: Seus dias estão contados
O gameplay de Bioshock Infinite é bem satisfatório, embora não hajam muitas novidades a serem ditas em relação a um jogo FPS. O sistema de melhoria das armas é bem variado, e você pode atualizar vários aspectos em cada uma delas. No caso de você optar em variar o uso de suas armas para desbloquear achivements ou troféus, a chance de ficar sem munição é grande. Os poderes, que no jogo são chamados de “vigores”, são muito úteis. Cada tipo de “inimigo” é sensível a um vigor em especial. Eu, por exemplo, fui descobrir só no final que os Patriotas são sensíveis ao vigor “Shock Jockey”. Já fica a dica.
Em relação aos outros Bioshocks, ele parece ser um pouco mais fácil. A adição dos trilhos suspensos – uma das diversas características legais de Columbia – é uma bem-vinda novidade. Booker pode navegar “pendurado” neles e dar seus tiros e “pitis” lá de cima. Essa dinâmica funciona muito bem e é legal demais você poder cair matando, literalmente, nos inimigos.
Em termos gráficos, as versões para PS3 e Xbox 360 sofrem bastante. Apesar de feito em 2013, a versão dos consoles tem gráficos bem datados, o que já não ocorre na versão para PC. É, PS3 e Xbox 360, vocês estão com os dias contados.
Pitaco final
A produção é o ponto alto de Bioshock Infinite: a riqueza com que a cidade de Columbia foi concebida é de fazer inveja em muitos jogos dessa geração. Some-se a isso um enredo maravilhoso, uma trilha sonora excelente, detalhamento em todos os níveis e o resultado vai além de um FPS comum. Aqui temos uma obra de arte.
Nota: 10
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- 11 de março de 2014