Harrison Ford, Ben Kingsley, Hugo Cabret e ViOprah Davis. Junte um elenco desse calibre com um filme de ficção baseado em um best seller do gênero, Ender’s Game, com o diretor do espetacular X-Men Origins: Wolverine. Putz, não podia ser outro diretor? Certeza que escolheram esse?
Sim, meus caros leitores, escolheram o Gavin Hood pra dirigir e deu no que deu: uma merda completa. Mas aí você, leitor, pode argumentar que, se eu estivesse no lugar dele, eu não faria melhor. Com certeza não faria. Mas eu não me candidatei a fazer nada, portanto…
Vamos lá. Por partes. Primeira coisa: Se você não assistiu o filme, eu te recomendo duas coisas:
1. Não assista.
2. Se resolver assistir, mesmo assim, não continue lendo esse texto, pois ele está repleto de spoilers.
Passadas as recomendações, vamos falar um pouco sobre a história do filme. É o seguinte: há algumas décadas a Terra foi vítima de uma tentativa de colonização por parte dos Formics, uma raça alienígena em busca de recursos naturais para instalação de uma nova colônia. Aquela história de todo filme de extraterrestres.
Pois bem, nossos incríveis militares americanos, que certamente assistiram Independence Day no Netflix, conseguiram derrotar os invasores exatamente como… no Independence Day. Pelo jeito eles viram que o Netflix via iPad dava certo e pensaram: por que não jogos no iPad para derrotar os aliens?
Baseados nessa premissa, eles recrutam milhares de jovens que, dispondo de uma capacidade cognitiva privilegiada, comandariam a esquadra espacial americana através de jogos eletrônicos em seus iPads. Desta maneira, teríamos o melhor cenário para derrotarmos os malditos formics. Certo? Nesse contexto todo, somos apresentados ao personagem principal, Ender, interpretado por Hugo Cabret. O menino dos olhos azuis é um verdadeiro prodígio. Ele tem a ternura da irmã e a violência do irmão.
Logo de cara, o vemos escapando de um bullying no colégio do jeito que sempre sonhamos. “É, aí vem um filme bom pela frente”. A julgar por esse começo, sim. Enquanto isso, vemos Han Solo e Oprah Winfrey admirando as reações do garoto e sua supremacia em relação aos demais garotos da sua idade e então, começam os problemas. Vou listar abaixo algumas das falhas grotescas que me fizeram torcer o estômago enquanto assistia ao filme:
· Me chamo Hugo Cabret: Por que cargas d´água o garoto é tão incrível assim? Tudo bem, ele mete o cacete nos garotos que estavam fazendo bullying com ele. Ok. Mas e depois? Cada reposta que o moleque dava vinha acompanhada de “Oh, como ele pode reagir assim” ou “nossa, ele é especial”. Se no livro há alguma explicação mais detalhada, no filme esta não ocorre.
· Me chamo Kratos: A cena do jogo “escondido” pra mim é a mais patética do filme. A despeito de toda a baboseira das Formigas contatarem a mente do garoto via iPad, tudo nessa cena é raso demais. No jogo ele é um rato que deve escolher qual copo de veneno não tomar. Quem oferece o veneno é um monstro daqueles estilo God of War.
Na primeira vez ele toma um e morre. Na segunda vez, toma o outro e morre também. Caro amigo leitor, que joga Playstation desde a época que não tinha barba, o que você faria na terceira vez? Como um bom Kratos, você ia pular na fuça do monstro, porra! QUALQUER UM faria isso. Mas o nosso Han Solo e a nossa Oprah se surpreendem. Ela chega a dizer “nunca ninguém fez isso” (mesmo depois de ter dito que ele era o primeiro a ter descoberto o game oculto). Será um prodígio tão grande assim pular no monstro? Pra mim não deu pra engolir.
· Me chamo Jesus de Nazaré: Em dado momento, nosso Han Solo solta a seguinte frase: “ele foi gerado para isso”. Ok, agora estamos diante do menino Jesus. Tirando essa frase, em que outro momento o filme mostra que há algo “especial” com o garoto? Com a família do garoto? Com o DNA do garoto? Em nenhum momento! No livro, talvez. Mas eu não li o livro. Sou obrigado a fechar os olhos e fingir que Indiana Jones falou, tá falado.
· Me chamo Clint Eastwood: Imagine que você é um garoto que nunca atirou com uma arma laser na vida. Você é tão ruim de tiro que a sua colega de regimento é obrigada a te dizer tudo sobre as armas laser. Na cena seguinte, você, que é ruim pra cacete de tiro e em todos os demais fundamentos necessários para aquele jogo, é obrigado a ficar no canto, preterido, sem jogar. Mas gente, você é Hugo Cabret. Você é Jesus. Você é Clint Eastwood. Você é Kratos. Você jamais ficaria de fora dos jogos né? E de que maneira você provaria a sua fodisse? Dando um tiro ou outro? Não, é claro. Você entraria rodopiando mais do que uma bailarina em Sochi e acertaria TODOS os seus concorrentes. Preciso falar mais alguma coisa?
· Me chamo Jesse Pinkman, bitch! Sim, não falta um momento Jesse Pinkman ao nosso amigo Ender. O cara passa o filme todo bancando o machão, sendo treinado para chutar o formigueiro. Na hora H, quando ele finalmente faz o que deveria ter feito, o que ele faz? Chora feito bitch. Tenha santa paciência.
Pitaco final
Depois de tudo isso, chegou a hora do pitaco final: Ender´s game é um filme fraco, muito fraco. Parece que foi feito às pressas, nas coxas mesmo. Nem Ben Kingsley salva. Como disse o Harrison Ford, no início do filme: “Só ele usou o cérebro nessa nave”. Ele devia ter dito essa frase para o diretor do filme.
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- 26 de fevereiro de 2014