Esclarecimentos antes de falar sobre Batman: O Cavaleiro das Trevas
Primeiro: não sou um cara habituado a assistir desenhos. Se você me perguntar o porquê, eu não conseguiria dar um motivo em especial. Talvez seja um pouco de preconceito com o gênero ou talvez seja mera casualidade. Realmente não sei dizer.
Segundo: não sou um cara aficionado em quadrinhos. Já fui, quando era mais novo. Tinha coleções de histórias do Homem Aranha e comprei tudo referente à morte do Superman. Mas o tempo passou, as editoras brasileiras de quadrinhos mudaram suas políticas e eu desanimei. Comprei poucos gibis nos últimos dez anos.
Terceiro: sou um grande fã de filmes de super-herói. Até hoje me emociono ao ouvir o clássico tema do Superman, de John Williams. Os filmes do azulão marcaram a minha infância daquele jeito que você bem sabe: Eu fazia um “S” com o cabelo (quando tinha) e amarrava uma capa vermelha nas costas. Tinha vários itens do Homem de aço em minha coleção: bonecos, cadernos, lancheiras e…cuecas. Sim, as infames cuecas Zorba com o símbolo do herói na parte frontal, escondendo o que viria a ser o verdadeiro homem de aço.
Delírios de grandeza a parte, um dia desses sofri com uma terrível insônia. Para não amolar a minha querida esposa, resolvi ir para a sala e ligar a televisão. Minutos depois, manifestava-se em mim o tipo mais comum de TOC: a troca ininterrupta e compulsiva de canais. Quando cheguei ao canal HBO 2 (lá pela quarta vez) e li a descrição “The Dark Knight alguma coisa”, pensei tratar-se do célebre filme de Christopher Nolan (com o Coringa mais foda de todos os tempos e aquela coisa toda) e resolvi parar ali. Mas me enganei. Não era um filme. Tratava-se de um desenho animado.
Frank Miller
Obviamente eu estava diante da adaptação em quadrinhos da aclamada série “O Cavaleiro das Trevas” de Frank Miller, que em inglês chama-se “The Dark Knight Returns” (O retorno do Cavaleiro das Trevas), um título bem mais apropriado, por sinal. A obra, aliás, é citação recorrente no universo cinematográfico DC: parte de suas ideias foram adaptadas no terceiro filme da trilogia de Nolan. Além disso, o anúncio do novo filme do Superman (e da aparição do Batman no mesmo) foi feito com frases retiradas diretamente da HQ. E tem mais: O Cavaleiro das Trevas é tão importante na história dos quadrinhos que, juntamente com “Batman: Ano um” e “A piada mortal”, é considerada uma das melhores histórias já paridas no universo Batman e, por que não, na história dos quadrinhos.
Pela Metade
Mais que a insônia, o problema maior foi me dar conta que estava assistindo ao último terço da primeira parte. E que último terço. O líder mutante está trancafiado, Gordon está de saída e Batman precisa fazer algo. E faz. E a primeira parte acaba com um conhecido e até então escondido sorriso. A agonia tomou conta de mim! Acabara de assistir um trecho de uma verdadeira obra de arte…pela metade! Algum tempo depois o problema estava resolvido e pude, afinal, assistir os dois capítulos da animação.
O Retorno do Cavaleiro das Trevas
Se você nunca leu a história ou não assistiu o desenho, sugiro que pule para o pitaco final, pois os parágrafos seguintes podem conter spoilers. Alerta dado, continuemos:
A história começa da exata maneira em que começa nos quadrinhos: temos um Bruce Wayne velhaco, aposentado da carreira de Batman e disputando uma corrida no melhor estilo Need for Speed. Enquanto isso, Gotham City é tomada por uma nova onda de violência, capitaneada por uma gangue chamada “Mutantes”. Liderados por Rita Lee (brincadeira), eles tocam o terror em Gotham e Bruce Wayne não vê alternativa a não ser voltar a vestir o pijama cinza do Homem-Morcego.
O problema é que os heróis haviam assinado, há uma década, um acordo para sumirem do mapa. Diana Maravilha voltou pro povo dela, o Lanterna-Verde resolveu recarregar a pilha no espaço, o Arqueiro-Verde se aposentou de Arrow e assim por diante. A única exceção, claro, era o Superman. Para o azulão foi aberta uma exceção, visto que ele era usado como instrumento de guerra nas investidas militares americanas. Era tipo o Capitão América, mas ao invés do escudo, havia uma cueca (tipo a minha).
Como o Batman resolveu aparecer e quebrar o “acordo”, o presidente mandou o Homem de Aço dar um jeito na situação. O “escoteirão”, como é chamado por seus colegas na animação, aparece (com seu sotaque caipira na versão legendada) e acata a ordem do Presidente. Sabe como é né, sempre solícito em ajudar a pátria. Pra piorar, quem resolve voltar à ativa também é o Coringa. Some-se a isso o fato de termos um Batman enferrujado e tá feito o “forfé”!
Pitaco Final
A história é muito bem contada (como nos quadrinhos), a qualidade da animação não deixa a desejar em nada, embora não tenha a qualidade de animações como as da Pixar. A trilha sonora é excelente e contribui para enfatizar os momentos de tensão da animação. Sobre as versões dublada e legendada, assisti às duas. Em ambos os casos, o trabalho é ótimo. É claro, na versão dublada, o Superman não tem sotaque caipira de texano, mas isto não é algo que macule a nossa dublagem.
Como se trata de uma animação, o clima “dark” da versão dos quadrinhos se perde um pouco, especialmente pelo fato de não haver narração, como na versão dos quadrinhos. Mas nada que comprometa.
Gaste duas horas e meia do seu tempo com algo bom: Assista “O Cavaleiro das Trevas” sem pestanejar, é diversão garantida e de alto nível.
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- 17 de março de 2014