Quando você assiste a um filme, série, joga algum game ou mesmo lê a sua história em quadrinhos favorita, é bem provável que alguns elementos relacionados à percepção visual, como simetria, similaridade, proximidade e tensão, passem despercebidos, pois são características que não chegam a ser explícitas como palavras faladas ou estímulos textuais. Mas ainda assim elas causam sensações diferentes em você. Podemos chamar esses elementos de “expressões sensoriais”, estímulos que são captados por nós e transformados em sensações. Existem diversas teorias, como Inferência Inconsciente e Gestalt. Mas hoje, vou falar apenas de um elemento da percepção visual: A tensão.
Antes disso, preciso falar sobre o equilíbrio, a referência visual mais forte e firme do homem. O processo de estabelecer o eixo vertical e a base horizontal atrai o olho com maior intensidade para ambos os campos. Todos os padrões visuais tem um centro de gravidade que pode ser tecnicamente calculável. Nenhum método de calcular é tão rápido, exato e automático quanto o senso intuitivo de equilíbrio inerente às percepções do homem. Para o emissor e o receptor da informação visual, a falta de equilíbrio e regularidade é um fato de desorientação/tensão.
Tensão
A desorientação, ou seja, falta de equilíbrio é o meio visual mais eficaz para criar um efeito a resposta da mensagem, efeito que tem um potencial direto de transmitir a informação visual.
Por exemplo, um raio em ponta no interior de um círculo provoca uma maior tensão visual porque o raio não se ajusta ao eixo visual invisível, perturbando, portanto o equilíbrio.
O elemento visual que mais atrairá a atenção do espectador será sempre o inesperado, o mais irregular e instável. Lembrando que não há porque atribuir valor à tensão. Ela não é boa e nem ruim. Na teoria da percepção, seu valor está no modo como é usado na mensagem final.
O cinema utiliza a percepção visual em sua totalidade e na maioria das vezes, de forma primorosa. Vou citar dois exemplos de filmes que utilizaram a tensão em suas aberturas, exatamente por, em poucos minutos, explorarem a mensagem que será mostrada em tela.
A ideia dessa matéria não é fazer você analisar cada filme que for assistir para saber qual tipo de percepção é gerada. Apenas para você entender que existem diversos tipos de interpretação de elementos, inclusive inconsciente.
Irreversível
Narrada em ordem cronológica inversa, o filme narra a busca por vingança de Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel), depois que Alex (Mônica Belucci), namorada de Marcus, é estuprada violentamente.
Irreversível criou polêmica especialmente pela cena de estupro que dura cerca de 11 minutos. Não é a toa que o filme foi considerado um dos mais perturbadores do século XXI. A maioria dos espectadores considera “indigesta” de ser assistida por inteira.
O filme se inicia com diversas rotações e mudanças de ângulos da câmera. Além disso, a trilha sonora perturbadora causa forte desconforto e efeito nauseante, adiantando ao espectador que ele ficará chocado com o que vai ver. Perceba que não foi necessário iniciar o filme com alguma cena explicitamente impactante. Apenas tirando o ponto de equilíbrio do espectador e mexendo com sua percepção para causar o efeito desejado.
Demônio
Nesse filme, cinco pessoas que rumavam para seus respectivos andares em um arranha-céu comercial, ficam presas em um elevador. O que para muitos já seria motivo de tensão, piora ainda mais porque estranhos e violentos acontecimentos começam a surgir dentro do minúsculo espaço. Alguém ali dentro não é quem aparenta ser. Do lado de fora, ninguém consegue arranjar um jeito de ajudá-los.
Aqui, mais simples que Irreversível, a abertura começa de “cabeça para baixo”. Isso é uma clara intenção de preparar o espectador para o que viria a acontecer. certamente se relaciona muito bem com o enredo.
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- 11 de março de 2015