Não sou um grande fã de Heavy Metal e justamente por isso coube a mim fazer o review do que é considerado o maior sucesso comercial do Metallica: O Black Album.
Repleto de hits, o disco vendeu mais de 28 milhões de cópias ao redor do globo. No ranking de 200 álbuns definitivos do Rock and Roll of Fame, ele figura na décima-quarta posição.
Antes de falar do álbum, preciso desabafar: eu torço o nariz monstramente para o Metallica. E você vai entender o porquê (e pode discordar à vontade, eu deixo).
Um sonho chamado Napster
No início dos anos 90, a indústria musical sofreu uma revolução que chacoalhou suas entranhas: o surgimento do CD. De repente, ouvir música não era mais aquele ritual de comprar um Vinil, ter que virar o disco, tem que se contentar com os chiados e com as agulhas: bastava inserir um disquinho bonitinho, pequeno e brilhoso e a festa estava feita. Não era mais necessário virar o disco, o som era cristalino; pra adiantar a faixa bastava apertar um botão. Todo mundo queria o CD, embora alguns artistas à época se recusaram, inicialmente, a converter seus catálogos por puro puritanismo. Depois, todo mundo abriu as pernas e as gravadoras encheram o cofre de dinheiro.
No final da década, com a indústria totalmente adaptada à nova realidade, veio o novo e derradeiro golpe: o formato MP3 conseguia entregar uma música com qualidade próxima ao CD em um tamanho de arquivo 90% menor do que era necessário até então. Isso estimulou o jovem Shawn Fannings a criar um programa para compartilhar o seu acervo pessoal de mp3´s com os colegas da faculdade: O Napster.
Meus amigos, pra quem tinha 20 anos naquela época, o Napster era o Santo Graal. Imagine você ter em suas mãos as músicas que, até então, você só poderia ter comprando um CD ou gravando em fita cassete. Acredite você ou não, em 1999 e 2000, ainda ouvíamos fita cassete. A febre tomou todos de assalto: em pouco tempo, você possuía no seu computador discografia de seus artistas prediletos, raridades, lançamentos indisponíveis no Brasil.
Golpe final
A indústria fonográfica se viu ameaçada e, ao invés de lidar com o problema de forma inteligente, escolheu o pior caminho: o terrorismo. De repente, começaram a chover processos e ameaças contra o criador do Napster e o golpe final foi dado por James Hetfield e Lars Urich: eles tomaram as dores da indústria e, há exatos 14 anos, entraram com um processo contra Shawn Fannings, que acabou culminando no fechamento de todos os servidores do programa. Só que o golpe fatal acabou virando um harakiri para a indústria: jogaram o Napster no Coliseu e seu sangue fez multiplicar os programas do gênero. A batalha estava perdida e quem soube lidar com a nova realidade, se deu bem (iTunes, por exemplo).
Agora eu me pergunto: por que Metallica, por quê? A liberdade não é o mote do Rock? Ele não foi criado para ser um estilo livre, para infringir as regras do status quo? Como uma banda de Heavy Metal pisa assim nos princípios básicos do Rock, ao se colocar contra à liberdade e a favor do capitalismo? É por dinheiro, afinal, então, senhor Lars e senhor James?
O Metallica magoou a mim e a uma geração inteira que vivia o auge de uma liberdade jamais experimentada, no começo da década de 2000. Findo o desabafo, vamos ao álbum, afinal de contas (como dizia o finado Anderson Cogo), o Metallica continua sendo o Metallica.
O Black Álbum
Lançado em 1991, o disco é fruto de uma parceria inédita da banda com o produtor Bob Rock. Ele foi chamado para mixar o disco e acabou sendo efetivado como produtor. As gravações, segundo nos conta a história, foram tão tensas e nervosas que a banda jurou jamais trabalhar com Bob novamente, o que acabou não acontecendo.
Sei que alguns fãs da banda torcem o nariz para o disco, alegando que o Metallica quis se tornar uma banda comercial ao abandonar o estilo original e “aliviar um pouco” no instrumental. A mim não causa estranheza, uma vez que anos mais tarde Lars e James provaram o quanto realmente gostam de dinheiro (mágoa do Napster de novo, sorry).
Nervosismos e crises de úlcera a parte, o resultado foi um disco extremamente competente, repleto de hits e produzido na medida certa para agradar gregos e troianos. São faixas de metal que tocam na rádio naturalmente; mesmo quem não é chegado ao estilo digere as músicas com facilidade (o que é meu caso).
Vamos à minha leiga análise faixa a faixa
Enter Sandman
Nasceu pra ser hit. Introdução e riff do tipo que não se esquece. A música surge num crescendo, o que é ótimo pra abrir um disco, e é como se estivesse dizendo “Ei, meu nome é Enter Sandman e estou aqui pra te mostrar o que é um disco foda de verdade”.
Sad but true
Andamento um pouco mais lento em relação ao que você espera do Heavy Metal. Outra música de sucesso, com um clima um pouco mais introspectivo, devido à natureza da letra.
Holier than Thou
Essa sim tem cara de Heavy Metal. Compassos acelerados, instrumental carregado, ritmo seco. A introdução é um pouco longa, mas o vocalista chega cheio de energia. Letra conflituosa e de duplo sentido; de quem ele está falando? De Deus ou de alguém que apontou o dedo na cara dele? O solo de guitarra é excelente, e o solo bateria/baixo na sequência é um dos momentos altos do álbum. E que guitarra base precisa, bless the Lord.
The Unforgiven
Uma daquelas que fez até frequentador de rodeio comprar o CD. Tocou mais no rádio que voz do Brasil. Pra mim, que sou leigo, é a música que define o que é o cd: um pouco de metal, um pouco de comercial. Melodia “pegajosa” (no bom sentido da palavra).
Wherever I May Roam
É a música mais interessante do álbum, em minha opinião. Começa com um clima meio “oriental” devido ao que parece ser uma cítara sendo tocada por alguém e em razão da afinação diferenciada das guitarras. A alteração de compassos também é bastante interessante. Começa em um andamento e eis que, do nada, mergulhamos do oriental para o metal.
Don´t tread on me
Pesquisei e a música tem algo a ver com a guerra civil americana (por isso a introdução). É um bom heavy metal, mas não me empolgou muito.
Through the never
Instrumental incrivelmente preciso, irmã gêmea em estilo a “Holier than you”.
Nothing Else Matters
A famosa música que todo mundo sabe tocar um pedaço no violão, até quem não sabe tocar (por ser em Em – Mi Menor – e poder ser tocada com as cordas soltas). O maior hit do Metallica, a música que todo mundo conhece. Não tenho o que dizer, é uma grande música sob qualquer aspecto que você possa analisar.
Of Wolf and Man
Música sobre lobisomens, ao que parece (embora pra mim tenha algo de Green Peace – viajando na maionese aqui). Tem um bom solo de guitarra, e um vocal gutural ao final do refrão (que é ótimo): BACK TO THE MEANING, BACK TO THE MEANING OFFFF.
The God that failed
Hetfield fala aqui do câncer da sua mãe, que recusou tratamentos convencionais ao escolher ser tratada por ciência “cristã” (pelo jeito, ela morreu). A melhor coisa da música pra mim é o solo, daqueles de “final de braço”.
My friend of Misery
Excelente dueto nos vocais – fiquei pensando no que seria aquele cara cantando meio forever alone no final da estrofe, em 1:28 – quem é esse cara? A música ousa no final ao rumar para uma coisa mais “Pink Floyd” e depois voltar com tudo num solo daqueles!
The Struggle Within
A fanfarra chegou com tudo e deu um show. Depois ligaram a banda na tomada (ou fizeram um Alien probe no James – quem jogou South Park entenderá) e tudo ficou num acelero danado – vocal, guitarras, bateria – todo mundo. A faixa que fecha o disco é justamente a mais “Heavy Metal”. Seria um recado pros fãs, do tipo “What a hell, ainda estamos aqui”?
O Black Album não teve todo esse reconhecimento à toa: é um disco com uma produção minuciosa, instrumental e mixagem excelente; acessível a todos os públicos. O Metallica deu um grande passo e solidificou a carreira. Antes, era o nicho do Heavy Metal, agora é o mundo.
É um disco obrigatório em qualquer coleção, especialmente se você resolveu baixá-lo pelo Napster!
- 0 Comentários
- Música
- 14 de abril de 2014