Se existiu um cara que teve uma vida atribulada, este foi Marvin Gaye. Coitado, complicação atrás de complicação!
Imaginem vocês que Marvin era filho de um pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, de uma linha ultraconservadora. Marvin descobriu, aliás, o seu talento para a música na igreja. Cantava no Coral e tocava instrumentos na igreja desde os três anos de idade. Isso entre uma surra e outra do pai.
Resolveu entrar pras forças armadas, mas viu que ali não seria a dele. Achou melhor dar uma de louco e conseguiu a dispensa. Entre uma banda e outra, foi apresentado a Berry Gordy, nada mais nada menos que o dono da Motown Records (e futuro cunhado). A Motown, pra quem não sabe, é “A” gravadora quando o assunto é Black Music: Entre suas principais estrelas estão Diana Ross, The Supremes, Chuck Berry, Nat King Cole, Stevie Wonder e Jackson Five. Dá pra imaginar uma coisa dessas?
Contratado como baterista, Gaye logo iniciaria uma carreira de sucesso na Motown. Durante os anos 60, Gaye viria a se tornar o principal artista da gravadora, muito disso graças a uma acertadíssima parceria com Tami Terrel (cantora que viria a falecer em 1970 em decorrência de um devastador tumor cerebral).
A morte de Terrel e as mudanças socioculturais da década de 60 fizeram com que Gaye quase desistisse da carreira. A gravadora tinha por hábito separar a equipe criativa dos intérpretes, e Gaye teve a chance de se encontrar como artista completo quando, durante este período repensando a carreira, atuou como produtor.
Sentindo a necessidade de fazer algo além de cantar, Gaye resolveu compor sobre coisas que aconteciam na época. A primeira música dessa nova fase, What´s Going On, foi entregue ao chefe da Motown, que a rejeitou. Gaye se negou a gravar qualquer coisa até que a música fosse lançada como single. Gordy cedeu e a música se tornou um sucesso. Depois disso, o que vem é história.
O álbum
What´s Going On é considerado um marco da música negra americana. No álbum, Gaye transcende a linha “Motown” de ser e produz um disco único, que fala de guerra, de religião e das decepções de um jovem americano.
As músicas são cantadas sob o ponto de vista de um jovem que acabou de voltar da Guerra do Vietnã e encontrou um Estados Unidos sem esperança. Este jovem questiona a sociedade e fala com Deus; questiona o tratamento dado às crianças, prega uma mensagem de ecologia.
Esteticamente falando, são músicas muito iguais entre si; as músicas são conectadas e podemos arriscar a dizer que trata-se de um álbum conceitual, no melhor estilo da palavra.
Por conta disso eu não analisarei faixa a faixa, uma vez que na verdade, temos apenas uma grande faixa aqui.
O disco foi um sucesso (como Gaye previra) e é um divisor de águas no soul music, tanto em formato, mas principalmente em conteúdo e temática. Graças a ele, Gaye pode apitar nas próprias produções dali pra frente.
Pitaco final
Com uma sonoridade gostosa de ouvir, What´s Going On é um grande passo em termos de como a música negra passou a tratar também de questões sociais, algo restrito ao Rock´n´Roll dos brancos ingleses e americanos.
Gaye encontrou um sucesso estrondoso com “What´s” que só viria a se repetir na década de 80, quando lançou canções maravilhosas e libidinosas (Sexual Healing, por exemplo). Infelizmente, sua carreira – em novo momento de ascensão – seria interrompida pelo pai-pastor, que acabou tirando a vida do próprio filho.
Se você não conhece o legado de Gaye, What´s Going On é a óbvia porta de entrada. Divirta-se e relaxe! J
Ficha técnica Álbum: What´s Going On Artista: Marvin Gaye Lançamento: 21 de maio de 71 Considerado o 6º melhor álbum de todos os tempos, pela Revista Rolling Stone.
