Muitas pessoas já foram chamadas de “O quinto Beatle”. Brian Epstein, o manager que transformou uma banda de botecos em sucesso comercial. Stuart Sutcliffe, amigo de John que tocou (ou fez que tocou) com a banda antes da fama e morreu precocemente em 1962. Pete Best, o baterista rejeitado que deu lugar a Ringo e até mesmo Derek Taylor e Neil Aspinall, pessoas do staff da banda. O fato é que não existe consenso entre quem poderia ser o “quinto Beatle”. Mas se tem um personagem que merece tal título, este é o produtor George Martin.
Músico de formação erudita, Martin trabalhava na EMI quando foi abordado por Epstein, que insistiu que este deixasse que os Beatles gravassem algumas músicas para demonstração. Martin topou, mesmo depois de os Beatles terem sido rejeitados por todas as demais grandes gravadoras da época. Ele chegou no final da sessão e ficou impressionado com os Beatles. Não pelo talento musical, mas pela sagacidade que era característica da banda. Ao perguntar se havia algo que eles não gostaram durante a estada no estúdio, George Harrison respondeu: “sim, a sua gravata”. A resposta chamou a atenção do produtor que também não gostou do baterista, que foi substituído na sequência por Ringo Starr.
Parceria
Este foi o início de uma parceria de sucesso pleno que se seguiria ao longo dos próximos oito anos. Martin era da música clássica, nunca havia produzido uma banda de rock anteriormente. Em 1962, isso não parecia ser grande obstáculo uma vez que o rock poderia ser uma modinha de verão. Como bem disse o CEO da Decca, famosa gravadora a rejeitar os Beatles.
Muitos verões se seguiram e a modinha dura até hoje. Juntamente com os Beatles, Martin fez parte da revolução da música pop. São deles ideias inovadoras e arriscadas que foram “experimentadas” com os Beatles e se provaram extremamente assertivas.
O ano era 1965
Os Beatles já eram grande sucesso e a Beatlemania estava em seu auge. Repetidos sucessos e grande criatividade colocavam o grupo num patamar acima dos demais. Embora a estética do que se produzia na época fosse bastante similar, e, em até certo ponto, inocente, os Beatles se sobressaiam principalmente com inovações pontuais: acordes menores bem colocados, harmonia vocal bastante trabalhada e letras cada vez mais maduras.
Era difícil acompanhar os caras, mas nem tão difícil de imitá-los. Eis que, em um belo dia, McCartney aparece com Yesterday. Martin escuta, reflete e cirurgicamente sugere que Paul a gravasse como canção solo, acompanhado de um quarteto de cordas. A reação imediata foi um sonoro “céloko” com sotaque britânico. “Nós somos uma banda de rock, porra… que negócio é esse de quarteto de cordas”? Martin insistiu dizendo que faria o arranjo e a gravação do quarteto de cordas e disse que usaria apenas caso houvesse uma aprovação de todos. O resultado já é conhecido. Yesterday se tornou a música mais regravada de toda a história e a inovação de misturar música clássica com o rock está presente até hoje.
Arranjos
George Martin colocou a mão na massa em muitas outras canções dos Beatles. São deles os arranjos de cordas de Eleanor Rigby, o piano elisabetano de “In My Life”, a condução da orquestra em “A day in the life”, o piano de “Lovely Rita”; isso sem contar a produção de álbuns clássicos como Sgt. Peppers, Revolver e Abbey Road.
Martin era também um inovador. Os álbuns dos Beatles eram gravados em estúdios que contavam com equipamentos de apenas 4 canais, algo hoje impensável (ou disponível por uns 10 contos em qualquer loja por aí). Quatro canais! Martin fez mágica ao driblar essas dificuldades com gravações sobrepostas, recortes de fitas, mesas de som “clusterizadas”, gravações ao contrário e todas as maluquices maravilhosas dos anos 60.
O fim dos Beatles não significou o fim da carreira de George Martin. Foram diversos artistas produzidos por ele ao longo dos anos. Desde Celine Dion a Elton John, passando por Gerry and the Pacemakers, Stevie Wonder, Jeff Back, America e a própria carreira solo de McCartney.
Lembra de Candle in the Wind – o hit “Lady Di”? Foi ele quem produziu, assim como produziu a estonteante “Live and let die”, de Paul (se você ainda acha que esta música é de autoria de Axl Rose e Slash, saia da minha página agora). Foi dele também a ideia de construir o mega estúdio na ilha de Montserrat, onde gravaram Dire Straits, Rolling Stones e muitos outros nomes de peso.
O fato é que hoje nos deixou uma lenda, um homem que ajudou a moldar o que conhecemos por pop/rock.
Vá em paz, George Martin.
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- Música
- 9 de março de 2016