Day of the Tentacle Remastered

Quem nunca imaginou como seria viajar no tempo? As épocas passadas e o desconhecido futuro vivem aguçando a curiosidade humana e, desde que eu me conheço por gente, pude vivenciar diversos tipos de manifestações visuais desta curiosa viajem ao desconhecido, seja em forma de quadrinhos, filmes e, especialmente, nos jogos.

Os anos 90 foram o ápice dos famosos jogos do gênero adventure point and click. Por mais que você não tenha vivenciado esta época, você precisa conhecer um dos melhores (se não o melhor) adventure de todos os tempos: Day Of The Tentacle.

DOTT (Day Of The Tentacle) apareceu nos PC em 1993 pelas mãos de dois gênios dos videogames: Dave Grossman (Monkey Island, Sam & Max) e Tim Schafer (Grim Fandango, Full Throttle), ambos trabalhando na famosíssima Lucas Arts. Vale lembrar que DOTT foi concebido como um sucessor espiritual de outro clássico de Schafer, Maniac Mansion.

Vinte e três anos depois a dupla Grossman e Schafer, agora na Double Fine, nos presenteiam com uma versão totalmente remasterizada deste épico clássico (para PC, PS4 e Vita) que, assim como Grim Fandango, tem tudo para conquistar novos fãs e também matar as saudades dos jogadores veteranos.

Era uma vez…

Você deve estar se questionando Mas o que este jogo tem de tão especial? Vou tentar responder com uma breve introdução à história do jogo:

Bernard e seus amigos Hoagie e Laverne recebem uma carta do maluco Dr. Fred Edison que pede para eles voltarem urgentemente para a mansão (a mesma do clássico Maniac Mansion) para ajudá-lo a deter uma de suas mais bizarras experiências, o Tentáculo Roxo, que propositalmente bebeu um pouco da água radioativa do lago da mansão, fazendo-lhe assim ganhar braços e uma vontade imensa de conquistar o mundo com seu exército de tentáculos clones. A única forma do trio impedir tal catástrofe é utilizar a máquina do tempo do Dr. Edison e retornar antes do Tentáculo Roxo beber a água contaminada. Porém, graças a um pequeno e previsível problema na engenhoca, cada um dos personagens vai parar em um espaço tempo diferente e agora devem encontrar um modo de energizar a máquina novamente e completar a missão.

Só pelo introdução já deu pra sentir o quão maluco é o jogo. O humor sarcástico de Tim Schafer está presente em cada uma das falas dos personagens e a linha de desenho cartunesco de Dave Grossman destaca o carisma de Bernard e sua turma, cada um com seu estereótipo.

Remasterizado ou original? você escolhe.

As melhorias implementadas pela Double Fine na remasterização são sensacionais. A parte gráfica teve todos seus sprites redesenhados em alta resolução e os efeitos sonoros também foi melhorada consideravelmente, com todos os diálogos e músicas regravados com qualidade surround 5.1. Agora, se você é um daqueles saudosistas ferrenhos e quer jogar DOTT exatamente como ele era em 1993, sem problemas! Aperte o F1 (ou touchpad no controle) e veja a mágica acontecer.

Mais carismático impossível!

DOTT é mais do que um jogo, é uma obra prima com muita personalidade, seja nas referências da cultura pop da época, o carisma dos personagens, diálogos, movimentação totalmente escrachada de Laverne ou até mesmo referências históricas que transitam no universo do jogo durante momentos importantes da narrativa.

Muitos jogos atuais apresentam diversos cenários para entreter o jogador, porém nem sempre conseguem cativar. Isso não acontece com a mansão do Dr. Fred. Com o decorrer da jogatina você percebe que o ambiente é muito mais do que um simples cenário, ela também é um personagem que se transforma nos diversos espaço-tempo, fazendo com que o jogador queira visitar cada cômodo, cada cantinho, afim de desvendar os quebra cabeças.

Tchau tchau teclado/mouse, que venham os gamepads.

Falando em quebra cabeças, não podemos esquecer da jogabilidade adaptada para os controles da nova geração, visto que em 1993 o jogo tinha suporte apenas para mouse e teclado.

Um dos maiores trunfos da equipe de produção, o remapeamento dos diversos comandos presentes na versão original como FALAR, PUXAR, USAR funcionam perfeitamente com um simples manejar do analógico direito. Posso assegurar que em momento algum vocês vão sentir saudades do bom e velho teclado/mouse.

Mas como eu disse anteriormente, se você for um saudosista aperte o F1 e deixe a mágica acontecer também com o teclado e mouse… A engine SCUMM* manda lembranças!

*SCUMM – Presente em quase todos os jogos da Lucas Arts da época (década de 90). A engine SCUMM foi idealizada e desenvolvida para a utilização do teclado e mouse como ferramenta principal de interação. O jogador tinha sempre um menu no canto esquerdo inferior da tela com todas as opção de interação do jogo, como por exemplo PUXAR, OLHAR, USAR etc. Alguns jogos que utilizaram a engine foram Day Of The Tentacle, Indiana Jones, Full Throttle, Monkey Island, Loom, Sam & Max eThe Dig.

Puzzles complicados? pense sempre “fora da caixa”

O que seria de um adventure sem os quebra cabeças? Atualmente, muitos os jogos não oferecem uma dificuldade aceitável neste quesito, o que acaba frustrando o jogador por ser em diversas vezes fáceis demais. Felizmente, desde sua versão original, DOTT não sofre desse mal. Você dificilmente irá conseguir resolver um puzzle apenas no chute. As opções de interação com o cenário e a gama de opções de ação são enormes, grande característica dos jogos adventure old school.

Assim como visto em Grim Fandango, o jogador precisa realmente pensar o que vai escolher para fazer e usar. Caso contrário passará horas e horas chutando combinações até que encontre a ação certa. Isso pode gerar uma certa frustração para os jogadores mais novos, mas nada que um pouco de atenção nos detalhes e diálogos não resolvam.

Aqui fica um alerta pessoal de quem já zerou inúmeros jogos da Lucas Arts e especificamente de Tim Schafer: Não fique preso em resoluções óbvias dos puzzles. Se existe uma palavra que a mente de Schafer desconheça é o ÓBVIO. Por isso, tente sempre algo muito IMPROVÁVEL.

Uma das ccaracterísticas mais interessantes em DOTT é a interação entre os personagens. Mesmo estando separados por épocas diferentes eles podem se comunicar, interagir e trocar itens. Tal interação de mecânica e história deixa o jogo muito mais interessante. Muitas vezes as resoluções dos quebra cabeças dependem da cooperação mútua de todos os personagens. Existem itens que são encontrados na época de Hoagie mas que só tem utilidade para época de Laverne. Tudo isso pode ser feito colocando os itens no vaso sanitário da máquina do tempo e resgatado por outro personagem.

A cereja do bolo

O jogo ainda possui extras bem interessantes. Como o comentário dos criadores do jogo em determinadas partes da aventura e uma galeria de concept arts que são desbloqueadas de acordo com seu avanço na história.

Na minha opinião, o “extra” mais legal é a inclusão na integra de Maniac Mansion, jogo original que antecedeu DOTT. Os jogadores poderão conhecer como começou a história de Bernard e seus amigos e principalmente como os gráficos e mecânicas foram evoluindo até a versão remasterizada. Quer saber onde está escondido o jogo? Bom ai é com você pra encontrar… Só uma dica: Procure em lugares onde você pode jogar em pé.

Conclusão

Demorou muito mais do que aguardávamos. Mas a remasterização de Day Of The Tentacle mostra que os jogos antigos ainda tem espaço nos dias atuais. Se a empresa tiver no mínimo carinho e força de vontade (assim como a Double Fine) é possível retrabalhar a mecânica para adaptá-la aos consoles atuais sem perder toda a originalidade e nostalgia da versão original.

O único deslize da remasterização é não ter a regionalização em português. Por exemplo, Grim Fandango não possui apenas legendas, mas também dublagem em nosso idioma. Isso é até certo ponto aceitável. Grim Fandango foi originalmente lançando com a dublagem em português, diferentemente de DOTT que mal possuía dublagem em inglês. Foi uma pena a Double Fine ter ignorado as legendas em português.