Angra – Secret Garden

Bandas normalmente vivem em ciclos. Poucas conseguem manter uma regularidade em níveis tão altos. Normalmente oscilam entre ótimos trabalhos e outros medianos para ruins. O Angra não fugiu a regra. Depois de várias idas e vindas, trocas de integrantes e dois discos medíocres, voltaram com o italiano Fabio Lione (Rhapsody of Fire) nos vocais e o jovem (e excelente) Bruno Valverde na bateria. E para surpresa de muita gente (eu incluso), lançaram um dos melhores discos da carreira.

Ressurgindo dos jardins secretos

Quando Lione foi anunciado como vocalista, eu me empolguei bastante. Ele já vinha fazendo show de tour desde que Edu Falaschi se desligou da banda e o entrosamento foi tão grande que acabou se tornando um integrante fixo. Sempre gostei do trabalho dele à frente do Rhapsody of Fire (apesar não ser lá muito fã da banda) e achei uma escolha muito acertada, o que se mostrou ao longo dos shows que a banda fez com ele em comemoração a 20 anos de lançamento do debut Angels Cry.
O novo disco foi anunciado e um ar de desconfiança pairou no ar. Lione é um vocalista bem diferente dos anteriores do Angra e os últimos dois discos tinham sido grandes fracassos. Inclusive, muita gente dava a banda como acabada, principalmente depois da vexatória apresentação no Rock in Rio de 2011. Porém, mais uma vez, a banda renasce.

O disco

Secret Garden é um álbum conceitual que fala de sentimentos e as perturbações mentais que eles podem trazer. Os tais “jardins secretos” da mente de cada ser humano. Então temos músicas que transitam da euforia ao caos, da catarse à depressão. Presenciamos toda a euforia do renascimento já na primeira faixa, Newborn Me. Com instrumental que lembra muito o já clássico Temple of Shadows, a música é pesada e quebrada na medida certa. A queda no refrão e o vocal perfeito de Lione só contribuem e dão o tom do que virá daqui pra frente.

Na sequência experimentamos um pouco de nostalgia com a power-metal-até-caroço Black Hearted Soul. O começo com coral remete aos tempos de Angels Cry e Holy Land e quando o instrumental começa não resta dúvida que a música é uma clara homenagem à fase antiga da banda, mas com uma nova roupagem. É uma música clichê que consegue soar “atual”, devido à timbragem dos instrumentos e ao vocal de Lione, que foge um pouco do tradicional.

Final Light

Fechando a trinca inicial do disco temos Final Light, que é aquela música com a cara do Angra. Com forte carga emocional e uma letra que fala de esperança, a música tem excelentes quebras e pontes entre refrão e estrofes, com riffs “cavalgados” que já se tornaram marca registrada da banda desde sua transição para um som mais intrincado e técnico.

A quarta e melhor música do disco (em minha opinião) é Storm of Emotions. Com um tapping de baixo belíssimo de Felipe Andreoli, a música começa calma como sua letra propõe e cresce conforme uma tempestade, explodindo no refrão como raios e trovões que cortam o céu. Logo após a explosão, o vocal (excelente por sinal) de Rafael Bittencourt entra em ação, dando a real dimensão das emoções contidas na letra. Uma obra prima e arrisco a dizer uma das melhores músicas da carreira da banda.

À partir da quinta música, o disco parte para temas mais obscuros e depressivos, com musicalidade mais carregada e timbres mais baixos. Em Violet Sky, que é cantada somente por Rafael Bittencourt, temos uma música bem mais densa que as quatro primeiras apresentadas, com um refrão muito forte e uma performance fantástica de Rafael. Destaque para o solo acompanhado de coral ao fundo. A faixa título cantada pela sensacional (em todos os sentidos #aquelacarinha) Simone Simons é um ponto fora da curva. Angelical, é quase como um afago diante de tanta porrada emocional. E não temos nem o que falar da performance da holandesa, excelente como sempre.

Upper Levels

Em Upper Levels, vemos um “quê” de Holy Land (o disco, não a música) na sua introdução. Com percussão e um violão dedilhado bem suave, que logo dá lugar ao prog power tradicional da banda que dita o ritmo de todo o disco. É a música mais longa da obra porém nem um pouco cansativa, apesar de ser a mais “quebrada” delas e de difícil digestão na primeira audiência.

A trinca final do disco começa com Crushing Rooms e temos novamente Rafael no vocal. Dessa vez com a participação mais do que especial da rainha Doro Pesch e sua voz irrepreensível. Porrada clássica, sem firulas e mais reta que as demais músicas. Funcionará muito bem ao vivo. Perfect Symmetry é mais uma na linha power-metal-até-o-caroço, mas não tão cativante quanto a Black Harted Soul. Simples e até meio manjada, daquelas que você adivinha sem muito esforço o que virá adiante, sendo o ponto fraco do disco. Mas fechando a obra temos a linda faixa acústica Silent Call, cantada novamente por Rafael Bittencourt. Com feeling bem acima da média, ele fala do destino com a naturalidade do dia, da noite e das memórias que levamos conosco. Bela forma de finalizar um álbum que fala (e mexe) com tantas emoções diferentes.

Resumo final

Secret Garden é um excelente disco. Melhor que muitos álbuns anteriores da banda (confesso que fica no meu top 3), trouxe de novo a banda para o cenário internacional com a mesma força de outrora, tocando nos principais festivais do mundo. A sinergia com Fabio Lione foi imediata e muito benéfica em todo esse processo. Um dos melhores discos do gênero no ano, sem sombra de dúvidas.

A banda se apresenta no dia 19/09 no Rock in Rio 2015, palco Sunset. O show terá participação de Doro Pesch e Dee Snider (Twisted Sister). Para aquecerem para o festival, fica o clipe de Storm of Emotions.