Lembro como se fosse ontem, quando estava na casa dos 20 anos, sem muitas responsabilidades a não ser ir para a escola e trabalhar um pouco para colocar combustível no carro, dar umas voltas na avenida para curtir um pouco… só que não! Esta não foi a minha vida durante a adolescência. Eu, na verdade, jogava videogames e realmente gostava (ainda gosto muito!).
Os anos 1990 ficaram marcados por muitas experiências. Entre elas o meu primeiro videogame comprado com o meu próprio dinheiro. O PlayStation, que me proporcionou diversas alegrias e muitas horas de jogatina, principalmente com o clássico Resident Evil. Lançado em 1996, o jogo foi um sucesso de vendas e criou uma legião de fãs pelo mundo todo. Durante o passar dos anos era inevitável que muitas sequências surgissem, algumas boas (Resident Evil 2 e Resident Evil 3) e outras nem tanto (Resident Evil 6 e Umbrella Corps). A Capcom sempre foi cobrada por trazer uma nova experiência aos jogadores, mas que ao mesmo tempo fosse fiel às raízes da franquia.
E para comemorar os 20 da franquia, um novo Resident Evil foi lançado e, segundo a produtora, tem tudo o que os fãs sempre pediram e muito mais. Mas será que realmente o novo Resident Evil vale a pena? Será que a Capcom acertou a mão após as duras críticas ao jogo anterior?
Vamos começar por onde as mudanças são mais notórias. Resident Evil VII foi feito em uma nova engine gráfica, batizada de RE Engine. Segundo a Capcom, a razão para adotá-la foi que entre vários outros fatores, seria muito mais fácil a produção para Realidade Virtual (VR). Logo que você inicia sua jornada é notável a qualidade gráfica. As sombras em partes externas com o sol brilhando é realmente de cair o queixo. Os detalhes dentro da casa, as texturas, a captura de movimento dos personagens e principalmente a fluidez da jogabilidade em 60fps são um colírio para os olhos.
Esta análise foi feita com a versão para PC, porém assistindo alguns vídeos de performance dos consoles e PC nota-se que todos tem o mesmo comportamento. Jogar com um óculos de realidade virtual, seja o VR para Playstation 4 ou Rift e HTC para PC, certamente é uma experiência fantástica e imersiva.
A Capcom acertou a mão na criação da RE Engine, pois Resident Evil VII é um dos jogos mais bonitos que eu já joguei no PC. Com uma otimização impecável é possível obter uma taxa quase constante de 60fps durante todo o jogo.
A história por trás de Resident Evil VII é inédita e nos apresenta novos protagonistas (Ethan) e antagonistas (Família Baker). Inicialmente, em momento algum é dito entre qual momento dos jogos anteriores se passa a história. Porém, conforme se avança no enredo, podemos notar como o jogo está inserido diretamente no universo de RE.
Fica complicado dar detalhes do enredo sem entregar spoilers (ainda mais eu que sou o rei dos spoilers). Você controla Ethan Winters, que está à procura da sua esposa Mia, desaparecida há 3 anos, e que “misteriosamente” reaparece após uma ligação. Seguindo algumas pistas, ele consegue a localização de onde ela está e assim parte para resgatá-la na Mansão da Família Baker que é onde, de fato, o jogo se inicia.
Este talvez seja o ponto mais polêmico do jogo. O novo Resident Evil tem jogabilidade em primeira pessoa, diferente da maior parte dos jogos da franquia, que eram em terceira pessoa. Preciso confessar que torci o nariz no primeiro contato com o jogo, afinal de contas, a Capcom havia prometido um Resident Evil voltado às raízes da franquia, e o jogo parecia mais um clone do Outlast, SOMA e outros jogos de suspense em primeira pessoa.
Meu segundo pensamento crítico foi que a Capcom fez isso para explorar o uso do VR. Mas o equipamento ainda não é acessível a todos (entenda: é caro!). Porém para a alegria de todos, a Capcom liberou uma demonstração do jogo e todo aquele pessimismo se converteu em esperança. Mesmo sem o uso do VR o jogo tinha uma imersão fantástica.
Os comando são bem simples e lembram um pouco os jogos anteriores: com L2/LT você mira, R2/RT você atira, X/A você interage com o ambiente e o D-pad serve como atalho rápido para armas e equipamento, ou seja, nada que você já não tenha visto em outros jogos (mesmo não sendo da franquia). Inicialmente a movimentação pode parecer devagar, mas depois você acostuma e percebe que isso é proposital ao estilo da câmera.
Algo que pode irritar no início do jogo é o uso das armas. Você se sentirá como um novato ao pegar uma arma pela primeira vez, errando muitos tiros, mas como eu disse anteriormente, isso é proposital tanto para o estilo da câmera, como para criar tensão ao sacar logo a arma e tentar matar o monstro.
Outro ponto crucial da jogabilidade são os combates. Acho que muita gente (assim como eu) atira primeiro e pensa depois. Porém a munição é algo escasso no início do jogo. Por isso, você deve aprender outras formas de enfrentar os Mofados (zumbis do jogo) ou fugir deles. Existe um botão para se defender dos ataques, para ter tempo de se recuperar e repensar sua estratégia, algo inédito na franquia.
Aqui cabe uma crítica negativa. Resident Evil VII trás apenas alguns insetos e variações dos Mofados. Eu acredito que isso seja uma opção dos diretores para que o jogador concentre suas forças nas batalhas contra os chefes. Afinal de contas os Bakers são muito mais interessantes do que o próprio jogador e sua esposa.
Tudo que um bom Resident Evil tem está aqui! Lembram dos baús onde você guardava suas coisas e pegava lá na frente o que precisava de volta? Eles estão aqui! Os quebra-cabeças clássicos da série que não se restringem a apenas ficar em um lugar resolvendo algo, mas que exige que o jogador vá até outro lugar para, por exemplo, pegar uma “faca” e abrir um cofre, liberando então o verdadeiro desafio? Também estão aqui! A exploração do ambiente para conseguir munição, mantimentos de saúde, tudo está presente.
No lugar das máquinas de escrever agora temos gravadores de som para salvar o seu jogo. Na dificuldade normal você pode salvar quantas vezes você quiser. Porém, se você optar por uma dificuldade mais desafiadora, os salvamentos serão muito limitados. O mesmo vale para os itens colecionados que sempre vão mudar de lugar, aumentando a duração do jogo.
Na minha opinião, a maior diversão é aquilo que eu (e acredito que boa parte dos fãs) fiquei com mais pé atrás após a divulgação das primeiras informações do jogo… A câmera em primeira pessoa. Esqueça a mecânica de terceira pessoa. Aqui tudo é mais tenso (e intenso), violento, e de certa forma vivo, seja na interação com o cenário ou nos sustos ao abrir uma porta e ter alguém da Família Baker te esperando do outro lado. Aliás as batalhas contra eles mereciam um capítulo a parte nesta análise de tão épicas que elas são.
O que seria de um jogo de terror sem uma boa ambientação sonora? Particularmente não gosto muito de jogar com headset. Prefiro um som mais aberto, amplo, sem nada apertando minhas orelhas. Porém jogar Resident Evil VII sem um headset é um pecado capital. O palco sonoro criado pela Capcom é muito bom. A ambientação seja dentro ou fora da casa é fantástica. Você consegue ouvir cada detalhe de forma cristalina durante a aventura e isso aumenta ainda mais a imersão no jogo. Seja ao abrir de uma porta, nas madeiras rangendo anunciando (ou não) a chegada de alguém, ou até mesmo com barulhos em lugares que tecnicamente seriam seguros ao jogador aumentando mais ainda a tensão.
Vale ou não a pena?
A Capcom finalmente ouviu os fãs. Tudo o que existia de bom nos jogos antigos da franquia está presente em Resident Evil VII. Uma ambientação sonora impecável, controles simples e intuitivos, novos e aterrorizantes vilões colocam o jogador sob tensão durante toda a aventura, além da nova engine gráfica voltada para o uso da realidade virtual que mostra uma qualidade gráfica jamais vista na série.
O jogo demonstra algumas falhas como a falta de variedade nos monstros, a curva de aprendizado no manuseio das armas e o curto tempo de jogo. Ainda assim Resident Evil VII foi uma ótima surpresa neste começo de ano. Esse jogo é para todos, fã ou não da franquia!
Resident Evil VII está disponível no formato digital para PC na Steam e também para PS4 e Xbox One.
Agradecemos à Capcom pelo acesso ao jogo para esta análise!
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- 30 de janeiro de 2017